domingo, 24 de janeiro de 2010

Escola Primária António Maria dos Santos




Fotografia de Fausto Castelhano



"(...)

Foi exactamente aqui, na Escola António Maria dos Santos, Estrada de Benfica, encostada ao centro Comercial Nevada, que se se desenrolou, tanto o meu exame da 3ª Classe, em 1949 (Exame do 1º Grau) como o exame da 4ªclasse, em 1950 (exame do 2º grau).


Pelo menos, todos os alunos da Escola Primária Elementar de Aplicação nº 47 aqui efectuavam os seus exames no final do Ano Lectivo.

Esta escola nº 47, que frequentei da 2ª classe até à 4ª Classe (depois de ter saído da Escola Primária Oficial nº 124, que funcionava no Patronato Paroquial de Benfica), localizava-se nas traseiras do edifício da Sopa dos Pobres da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. A 'Sopa do Sidónio' ou a 'Sopa do Barroso', como era também designada.


O edifício da Misericórdia de Lisboa localizava-se na Estrada de Benfica ao lado do antigo
Quartel dos Bombeiros. Todavia, entre o Quartel e esse edifício, existia um longo em caminho em "macadame" que, passando rés-vés com as traseiras da Fábrica Simões, nos levava, lá no alto, ao magnífico conjunto do Magistério Primário.
Toda a área da Cozinha dos Pobres e da Escola Primária Nº 47, já demolidos, ocupavam parte do espaço da que é, hoje, a Escola da Quinta de Marrocos.


E, já agora e como recordação desses belos tempos, o nome das quatro professoras dessa escola: Dª. Isaura, Dª. Maria do Céu, Dª. Tomásia e Dª. Maria Mateus (as duas últimas, foram minhas professoras). Todas elas muitíssimas competentes mas, muito bravas.

Era o tempo em que por cada erro no ditado se era contemplado com duas ou três valentíssimas réguadas e, como complemento, repetir vinte ou trinta vezes a palavra errada.



Um abraço de muita amizade
,

Fausto Castelhano"







49 comentários:

Lena Pombinho disse...

Fiz nesta escola a 3ª e 4ª classes em 1963 e 1964 e tenho ideia, mas não tenho a certeza, de que a minha professora se chamava D.Isaura. Quando lá andei a escola era só para raparigas. Não sabia que anteriormente era de rapazes ou mista.

Alexa disse...

Lena: penso que o Fausto apenas aqui fez o Exame, como referi.
O Fausto andou Escola Primária Elementar de Aplicação nº 47.
Mas ele poderá confirmar melhor a sua questão.
Um abraço

Lena Pombinho disse...

Obrigada Alexa, não tinha percebido bem.
Bom domingo!

Fausto disse...

Efectivamente, assim era. A Escola Primária Nº 47 (a "Escola da Câmara", como era conhecida) era só para meninos. Com algumas excepções, eram os meninos das famílias mais carenciadas de Benfica mas, também, da Venda Nova como o Felismino), Bairro do Taxa, Buraca e Bairro da Boavista, como o "Cochó)que frequentavam esta escola. Havia uma certa discriminação social. Os outros meninos das famílias com melhores condições económicas e as meninas frequentavam a chamada "Escola Normal" (sempre em turmas separadas). Esta escola estava localizada nos edifícios mais pequenos junto ao admirável conjunto da Escola do Magistério Primário.
No intervalo do almoço, subíamos a rampa até ao refeitório (numa das dependências da Escola Magistério) onde nos era servida sopa(muito bem confeccionada) e pão escuro muito saboroso, o chamado "casqueiro".
Na época própria, a meio da sopa e com que sacrifício, obrigavam-nos a engolir uma colherada de óleo de fígado de bacalhau. Do puro. Era assim mesmo. Que saudades...

Um abraço

Fausto

Alexa disse...

Fausto: que recordações!
Estou a ver que tenho que o entrevistar brevemente para a nossa rubrica "Gente de Benfica" ;)

Julio Amorim disse...

Frequentei a Escola Normal lá no cimo do monte e, não tenho saudades absolutamnete nenhumas dela: das reguadas, da pobreza de muitos, dos abusos a que eram sujeitos e, das professoras vestidinhas de santas que, terminavam as reguadas depois das primeiras lágrimas. Que ardam bem no inferno....são os meus sinceros desejos.

João disse...

Júlio, eu também me lembro que tínhamos colegas que iam descalços para a escola. Eu também me lembro que alguns chegavam à escola espancados com nódoas negras. Eu também me lembro daquelas cenas do Natal, quando as "senhoras" da Santa Casa da Misericórdia vinham oferecer roupas aos mais pobres, fazendo-o em frente de toda a classe como se a vergonha da própria pobreza não fosse suficiente. Eu também me lembro das reguadas até as lágrimas chegarem aos olhos, só porque não se sabia responder a uma pergunta. Também me lembro do recreio, que no Inverno era apenas um lamaçal. Também me lembro do "poço das bruxas" a céu aberto, sem qualquer protecção para as crianças que podiam cair lá dentro. Também me lembro dos edifícios separados para meninos e para meninas. Sociologicamente falando, isto também era o bairro de Benfica. No fundo, isto era Portugal.

Ambos nos lembramos. Não dá para esquecer. E por muito mal que esteja a Educação hoje em dia - carregada de facilitismos e indisciplina - este passado não é exemplo para ninguém.

João disse...

Mas nada disto consegue apagar as gratas e infindáveis memórias que nos ficam dos tempos de criança. Das brincadeiras que não se esquecem, das futeboladas, dos "bonecos da bola", dos "bilas", das caricas, dos piões de madeira, etc. Ao fim e ao cabo, as memórias de um tempo em que as crianças ainda podiam andar na rua à vontade.

Ainda me lembro de muitos colegas, alguns dos quais nunca mais vi. O Gustavo, da Gomes Pereira, que era meu colega de carteira, apareceu aqui há uns anos valentes a cantar num Festival da Canção. O Gaspar vive em Bremen, na Alemanha, e vejo-o quase todos os anos no Verão. O Vitinhas e o Márinho, que eram do Charquinho e que jogaram hóquei em patins nos juvenis / juniores do SLB, nunca mais os vi. Quanto ao Raul e o Pejô, do Calhariz velho, idem. Do bairro Taxa havia o Craveiro que há muitos anos encontrei numa loja da Praça da Figueira, onde ele trabalhava. Os da Cláudio Nunes e da então Travessa dos Arneiros, deixei de os ver. O que será feito de toda esta malta...?

Alexa disse...

Júlio e João: concordo que "este passado não é exemplo para ninguém"... mas, em todo o caso, penso que o mesmo também não deve ser omitido ou esquecido (sobretudo, pelas questões enunciadas pelo João), uma vez que ajuda a caracterizar uma época que se viveu em Portugal e na nossa freguesia.

Logicamente que as memórias do passado vão sendo "deformadas" (ou não), para cada um de nós, consoante o/s contexto/s seguintes das nossas vidas e, por isso mesmo, há que sermos racionais nestes casos.

Lembro-me, por exemplo, de ser criança e ouvir o meu avô falar exaltado contra o que se passara daquela vez em que estava junto ao "Girassol de Benfica" (ao fundo da Rua Cláudio Nunes), a falar com um grupo de amigos, e um polícia os interpelou, dizendo que não se podiam fazer "ajuntamentos".
Se hoje em dia falarmos com o meu avô sobre esse caso, o polícia já nem sequer aparece na história e ouviremos dizer "Belos tempos em que se podia andar na rua sem ser assaltado ou agredido".
Tudo isto para dizer que, de facto, as memórias são "deformadas" ou não consoante os contextos das nossas vidas e a forma como vamos catalisando o que se passa à nossa volta.

Por tudo isto, também, é que é bom as memórias da nossa freguesia serem partilhadas, dado que nem todos temos os mesmos pontos de vista sobre as mesmas. Mas cada um pdoerá retirar as suas devidas ilacções.

Um abraço amigo

Julio Amorim disse...

Em parte tens razão João...mas infelizmente, as boas memórias ficaram para sempre à sombra das outras e, alguns dos meus amigos de infância vieram mais tarde a pagar preços muito altos pelas "educações" que sofreram na pele. Quanto aos nossos colegas descalços e espancados, ainda hoje não consigo pensar neles sem arriscar uma ou outra lágrima.
Gabo-te a memória, pois esses nomes e caras, há muito que desapareceram cá do "sótão"....
E...claro está Alexa, as memórias são em parte "selectivas"....

João disse...

Alexa 12:35

"Logicamente que as memórias do passado vão sendo "deformadas" (ou não), para cada um de nós, consoante o/s contexto/s seguinte/s das nossas vidas e, por isso mesmo, há que sermos racionais nestes casos."

Naquilo que me diz respeito, estou convencido que se a Alexa tivesse lançado o seu comentário já depois de ter lido a 2ª parte do meu, o seu conteúdo teria divergido ligeiramente. Faço-lhe essa justiça. Afinal de contas, e até um pouco à imagem do senhor seu avô, eu próprio acabei por me referir às "memórias de um tempo em que as crianças ainda podiam andar na rua à vontade." No que respeita ao Júlio Amorim, ele já disse o que achou por bem dizer. Mas olhe que o "azedume" das pessoas pode permanecer independentemente "do/s contexto/s seguinte/s das nossas vidas". Uma pessoa de sucesso (utilizando um termo tão ridiculamente usado nos dias de hoje) não tem necessariamente que esquecer um passado algo difícil, branqueando-o com uma esponja que lhe é passada por cima.

As memórias de um lugar, neste caso o bairro lisboeta de Benfica, também são feitas de coisas menos boas. Benfica não é apenas a terra de Lobo Antunes, escritor universalmente badalado que eu tanto admiro e que conheço pessoalmente. Benfica também é (foi) feita daquelas coisas que o Júlio referiu e que eu próprio corroborei. Tal como diz o povo, "as conversas são como as cerejas"... Por isso, ao escrever o que estou a escrever, lembrei-me que - para mim - Benfica também contém personagens como a velha florista Magnífica, a quem lhe morreu uma filha adolescente (Cecília) e que, já depois de "refeita" desse desgosto (nenhuma mãe se refaz da morte de um/a filho/a...), viu o seu filho Valentim morrer na guerra colonial (Guiné), coisas que também transtornaram outras pessoas que viveram as situações por perto. Sou amigo dos outros dois irmãos, os quais foram educados na Casa Pia porque a mãe, sozinha, não tinha possibilidades de os educar de outra forma. E isto também é Benfica. E esta minha Benfica moldou a minha maneira de ser, ao fim e ao cabo, a forma como tento passar por esta vida...!

Anyway... o que importa, para já, é o objectivo fulcral deste seu blog, para o qual continuará a contar incondicionalmente com o meu apoio. E estou certo que, à semelhança do que a Alexa já fez com outras personagens, saberá aproveitar - no bom sentido, claro está - o contributo que lhe pode ser transmitido por pessoas que tiveram conhecimento recente deste seu blog, como é o caso do Lau, do Tibúrcio, etc. E outros virão, duma assentada ou não... ;-)

Um abraço sincero e força com o blog.


Julio Amorim 13:17

"Gabo-te a memória, pois esses nomes e caras, há muito que desapareceram cá do "sótão"..."

Júlio, vivo numa freguesia vizinha (Carnide) o que me permite vir muitas vezes a Benfica, quanto mais não seja para visitar a minha mãe (com 85 anos) e rever alguns poucos amigos. E isso ajuda-me a manter viva a memória de certos lugares e pessoas de Benfica...

Anónimo disse...

Joao,
a tua memória bem viva, fez-me recordar muitissimas coisas já qusa esquecidas.
Gostei do "abanao".
Um abraco da

Dulce P.

Alexa disse...

João: de facto, só após ter publicado o meu comentário verifiquei que, 2 ou 3 minutos antes, o João tinha acrescentado algo ao seu comentário inicial.

O conteúdo do meu comentário anterior não era, de modo algum, uma crítica a quem quer que seja. Prendeu-se apenas com o facto de o João e o Júlio terem divergido das palavras do Fausto, relativamente a um passado que para ele deixou saudade (e do qual terão sido "apagadas" as coisas menos boas) e, para vocês, deixou muitas lembranças de coisas menos boas (apesar do João também relembrar as coisas boas).

Mas penso que, em suma, é uma questão de nem 8 nem 80 e tentar, de facto, ser imparcial e racional perante estas questões da memória (que, no fundo, acabam por gerar sentimentos de diferentes espécies).

E, no fundo, depois de ter lido este seu último comentário, penso que estamos ambos a falar da mesma coisa (ou, pelo menos, temos a mesma opinião sobre este assunto).

Também não considero que alguém "de sucesso" tenha, necessariamente, que esquecer um passado algo difícil, branqueando-o (muito pelo contrário!)... o que quis dizer é que, em certos casos, isso acaba por suceder (como se passou com o meu avô), fruto das próprias mudanças sociais a que ele assistiu (ou do que quer que seja, já que cada um de nós é diferente).

Benfica, como o João muito bem disse, não foram (nem são) só coisas boas...
Veja-se os testemunhos que o João agora nos deixou no seu comentário e o relato da história de vida do Jorge Resende na sua entrevista.

O que se passa é que, a grande maioria das pessoas, quando olha para o Passado de Benfica (e do que aí viveu), tendencialmente, acaba apenas por se lembrar de coisas boas... pelo menos é isso que tem sucedido com a grande maioria dos contributos que me têm sido enviados por e-mail.

Muito obrigada pelo seu apoio incondicional a este blog, João!

Espero, de facto, estar à altura de continuar a dar "vazão" aos preciosos contributos que me têm sido enviados por tantos (novos e antigos) leitores... porque, no fundo, estou muito contente por este blog se ter, cada vez mais, transformado num espaço comunitário (em que eu apenas centralizo e trabalho o que todos me enviam).

Por falar nisso, e como estamos em relação ao Sr. Saúl (presumindo que esteja a falar com o João que nos pediu as fotos da Metalúrgica de Benfica) :)?

Um grande abraço

João disse...

"Prendeu-se apenas com o facto de o João e o Júlio terem divergido das palavras do Fausto..."

Eu não sei se divergi(mos) das palavras do Fausto pois ele expressou apenas uma percepção sensorial da escola, acima de tudo ao nível gustativo/olfactativo. ("No intervalo do almoço, subíamos a rampa até ao refeitório onde nos era servida sopa muito bem confeccionada e pão escuro muito saboroso, o chamado "casqueiro". Na época própria, a meio da sopa e com que sacrifício, obrigavam-nos a engolir uma colherada de óleo de fígado de bacalhau. Do puro. Era assim mesmo. Que saudades...")

Mas para que a Alexa não pense que só me recordo de coisas menos boas, estou agora mesmo a lembrar-me de algo que lhe vou aqui deixar como testemunho da satisfação que eu e a malta minha amiga sentimos quando, lá para o fim dos anos 70, vimos uma enorme caravana automóvel percorrer as ruas do nosso bairro com as bandeiras do Fofó desfraldas ao vento. Os "bimbos" do Ramaldense, eternos campeões, tinham sido derrotados e - com muitos anos de intervalo - o Fofó era novamente Campeão Nacional de Hóquei em Campo!

Alexa disse...

João: muito obrigada pela partilha desse que deve ter sido um grande momento para a nossa freguesia!

Infelizmente, já cheguei tarde... ou melhor, quando aqui cheguei, já os grandes clubes imperavam e os mais jovens, em geral, não praticando desporto no "Fófó", não têm grande percepção da sua importância para Benfica.

Felizmente, de há 5 anos a esta data, moro muito perto do "Fófó", o que me tem ajudado a compreender melhor a sua mística.
Já para não falar do muito que tenho aprendido com alguns leitores aqui do blog sobre o clube.

Por falar nisso, amanhã (ou melhor, daqui a nada), deixarei aqui uma surpresa para todos os adeptos do "Fófó" ;)

Um abraço amigo

Fausto disse...

Olá amigos

Sinceros agradecimentos ao João e ao Júlio Amorim como, nos seus comentários conseguiram, de um modo tão admirável retratar, a tão longa distância, a vivência das Escolas do Ensino Primário do chamado Estado Novo numa época de tantas e gritantes carências que, de um modo geral, grassava no seio na esmagadora maioria da sociedade portuguesa de então. Época de perseguição, obscurantismo, miserável.
Assim, felizmente e por enquanto, continuo com tudo (ou quáse tudo) gravado na minha memória e, de cada vez que esgaravato a mente um pouco que seja, logo vem tudo de enxurrada.
Por isso, não me esqueci de nada e, muito menos as reminiscências menos agradáveis por que, afinal de contas, todos os da minha geração passaram.
O sadismo das professoras de então; o prazer mórbido quando nos castigavam; o pânico das vacinas com a turma enfileirada depois de lhe enterrarem ferozmente as agulhas no ombro e a espera, interminável, até que chegasse a sua vez de ser injectado e...a fuga de alguns e o posterior castigo; as "esperas" aos rapazes da Escola Normal (e havia amiúde) ao princípio da ladeira que os levaria lá acima; as jogatanas depois da sopa e da fatia de casqueiro, das correrias loucas ladeira abaixo e da chegada tardia à porta de sala de aula. E aí, meu Deus, ninguém escapava. Apanhavam pela medida grossa; as cantorias da professora D.Isaura, aos sábados de manhã. Todos afinadinhos a cantar o Hino Nacional e, como não podia deixar de ser, o "Lá vamos cantando e rindo", o hino dos "piolhos verdes", vulgo, Mocidade Portuguesa; e era a pobreza de muitos companheiros nossos, descalços, clientes certos da "Sopa do Barroso" e do casqueiro escuro, de panela e chapinha de alumínio com nº de identificação.
Era tudo isso mas, também, as "fintas" , as pedradas e a fuga à polícia; as "chinchadas": os figos e as romãs na Quinta das Palmeiras; os abrunhos e as ameixas no quintal da D. Vina; as cerejas na Quinta da Granja; as nêsperas e os figos na Quinta do Charquinho; as laranjas para lá do muro da Quinta da Granja frente aos bombeiros; os diospiros na Quinta do Marrocos; os piões e os "bilas" na loja do velho Mané Mané; os jogos da "Rôlha", do "Lá vai alho" e de tantos outros.
E era a rua como um imenso e fabuloso palco onde nos movimentávamos com toda a nossa imaginação, alegria e sempre, sempre com uma inesgotável genica.
Claro está que, no meu breve e modesto texto sobre a Escola António Maria dos Santos não pretendi "carregar nas tintas" (nem era esse o objectivo do tema) sobre aspectos que marcaram negativamente as nossas vidas enquanto crianças porém, também eu alinho de alma e coração com o nosso companheiro Júlio Amorim. Que as nossas queridas professoras que tanto nos massacraram, que nos obrigaram a aprender a bem ou a mal se, por acaso, caíram nas profundezas dos Infernos, que permaneçam por lá, consumidas em brandas labaredas se, possivel, e até ao "fim dos tempos".
Elas mas, também, o regime educativo desses tempos tenebrosos e os seus progenitores.
Por fim e apesar de tudo, estou absolutamente convencido que os jovens de hoje nem seque imaginam o mundo fabuloso em que, eu e muitoa dos meus amigos vivemos enquanto jovéns. Olho para trás e não tenho dúvida nenhuma. Continuo a sentir uma saudade tão incomensurável que até dói...

Um abraço de muita amizade

Fausto Castelhano

Julio Amorim disse...

Ahhhh....as chinchadas sim! Isso são boas memórias caro Fausto! E como essa fruta sabia BEM !!!!

João disse...

Caro Fausto, a fluidez do seu texto revela não só uma grande memória como uma grande clarividência. Para além disso, terá tido o condão de mitigar os possíveis (e legítimos) receios da Alexa que já estaria a imaginar o seu "Retalhos de Bem-Fica" transformado num painel de confronto de opiniões irredutíveis... ;-)

De cada vez que aqui venho, recordo sempre algo relacionado com a minha infância, nomeadamente nos tempos de escola. O espaço onde está hoje erigida a Escola Superior de Comunicação Social (um excelente exemplo da arquitectura moderna) era mesmo pegado a um dos edifícios laterais da Escola Normal onde tínhamos as nossas aulas. Esses terrenos eram uma extensa plantação de trigo, cevada ou aveia (não sei o quê, exactamente). Por vezes, aparecia lá um homem a gradar a terra com uma junta de bois. Como a grade precisava de ter peso para se fixar bem no solo, o homem até agradecia que dois ou três putos se sentassem em cima da grade. Era uma "guerra" do caraças para conseguir um lugar em cima da grade pois todos queriam ir para lá. Nunca mais me esqueço desses "passeios" à boleia da junta de bois...

Alexa disse...

Caro Amigo Fausto,

Muitíssimo obrigada por aqui ter aparecido (nos comentários), a dar voz às suas memórias.

Peço-lhe desculpa se, em comentários anteriores, insinuei que estaria "esquecido" dos momentos menos bons do seu Passado...
Mas, como muito bem salientou o João, eu já receava alguns confrontos de opiniões e tentei servir de conciliadora nesta questão (sem grande jeito para a coisa, diga-se de passagem ;)

Mas é bom ver que nós "Benfiquenses" (para não confundir com os outros ;) somos pessoas calmas e, afinal de contas, a falar e a saber ouvir os outros é que a gente se entende ;)

Um abraço

Fausto disse...

Olá, Júlio Amorim

E eu a pensar que só a "malta" da minha rua é que andava à "chinchada". Sim senhor...Afinal, tínhamos séria concorrência. Ficou-me o hábito e, ainda hoje, não resisto. De facto, sabe muito melhor. Quem nunca praticou esta interessante actividade não sabe o gozo que dá...Aproveitem. As nêsperas não tardam aí.

Um abraço de muita amizade

Fausto Castelhano

Fausto disse...

Olá Alexa

Não tem que pedir desculpa nenhuma e, dos momentos menos agradavéis do passado, e foram mais que muitos, desses é que eu não me esqueço nunca. Basta, por vezes, um lamiré e, logo, vem tudo aos borbotões. Pronto, não há confronto de espécie nenhuma com os nossos bons amigose e, pessoalmente, até "gramei" que assim tivesse acontecido. Tornou os nossos desabafos muito mais vivos, remexeu nas nossas memórias e com conteúdos verdadeiramente aliciantes.

Um abraço de muita amizade

Fausto Castelhano

João disse...

Vou "voltar à carga":

- porque em primeiro lugar, estranhei a ausência de um comentário da jovem Alexa face à imagem tão bucólica que eu tentei transmitir. Andar a "passear" à boleia de uma junta de bois, nos anos 60 e em plena Lisboa, não deveria nunca passar despercebido. Mas eu desculpo-a, pois a Alexa estava verdadeiramente empenhada em "justificar-se" perante o Fausto, o que só abona em favor dela... ;-)

- e agora mesmo a sério, porque gostava de ver esclarecido um ponto que, eventualmente, não passará de mera imaginação minha. Tenho a ideia que na encosta dos terrenos que referi, ou seja, já nas abas do Calhariz, hoje muito perto do Califa, havia uma casa de freiras, não propriamente um Convento, onde elas - para ajudar ao seu "orçamento" - vendiam leite e ovos frescos. Estarei eu a "inventar" ou era mesmo assim ?! Quando ponho a hipótese de estar a "inventar" é apenas porque os dias de hoje são outros, e as Irmãs que vivem ao pé de mim, em Carnide, vendem sumo de aloé vera para quem quiser comprar.

Talvez o Júlio Amorim, que foi meu colega na Escola Normal, ou - acima de tudo - o Fausto, com mais alguns anos de vida e com a sua vivida experiência de Benfica, me / nos possa(m) confirmar se, de facto, existia essa casa de freiras já muito perto do Calhariz...

Alexa disse...

Caros Amigos Fausto e João,

As minhas sinceras desculpas por não ter comentado a bucólica imagem do passeio à boleia do João, nos anos 60, numa junta de bois, em Benfica (acredito que se tivesse sido na Baixa, muito mais estranho pareceria, do que na nossa freguesia ainda um pouco rural a essa época, não? ;)

Mas podem crer que estes últimos dias têm sido bem agitados no que diz respeito à luta pela preservação da Vila Ana e da Vila Ventura... pelo que a minha cabeça pode não andar lá muito certa.

Da casa de freiras nas abas do Calhariz, de facto, não me recordo (provavelmente, por já não ser do meu tempo)... mas espero sinceramente que aqui apareça algum leitor com recordações da mesma.

Curioso que essas Irmãs que vivem ao pé do João, em Carnide, vendam sumo de aloé vera... mas, talvez, seja um sinal dos tempos ;)

Um abraço amigo

João disse...

"As minhas sinceras desculpas por não ter comentado a bucólica imagem do passeio à boleia do João..."

eheheheheh, o meu "queixume" - em mero tom de brincadeira - não era para ser levado a sério. Já agora, e num igual tom de brincadeira, permita-me que lhe diga que essa do "passeio à boleia do João" quase me lembra aquela dos "pijamas para homens às riscas"... ;-)

"Da casa de freiras nas abas do Calhariz, de facto, não me recordo (provavelmente, por já não ser do meu tempo)... mas espero sinceramente que aqui apareça algum leitor com recordações da mesma."

Nunca poderia recordar-se pois quando as freiras sairam dali ainda a Alexa não era nascida. Mas tenho uma "fezada" que o Fausto o confirmará, caso eu esteja realmente certo nesse meu imaginário...

Julio Amorim disse...

Disso não me recordo João! Mas do agricultor...e daquele palacete ali perto do Fonte Nova tenho memórias, pois era lá que moravam (?) os estagiários do curso de professores.

João disse...

Sinceramente, não sabia que aquelas que - na altura - eram chamadas de "alunas-mestres" moravam no referido palacete. Se calhar era alguma dependência do Magistério Primário...

Fausto disse...

À boleia na grade. Coisa bacana!

Olá amigo João

Oh! Oh! À boleia em cima da grade...Pois é! Nessa insólita modalidade (o perigo de meter uma perna entre os madeiros da alfaia), eu os meus irmãos é que tivemos uma sorte do "caraças".
É que eu nasci e vivi, até me "arrumar", numa quinta onde se desenvolviam todos os trabalhos inerentes a uma exploração agrícola. E, logo que chegavam as primeiras chuvadas de Setembro/Outubro procedia-se, então, à lavra com charruas ou arados. Devidamente aparelhados com a canga e pelas tiras de couro, as juntas de bois de trabalho, amarelos, resfolegando pelo esforço dispendido. Isto nas décadas de 40/50/60 do século passado. Os tractores vieram depois. Coisa modernaça, já se vê todavia, conseguiu acabar com todo o encanto daquele verdadeiro espectáculo. E quem nunca teve o privilégio de ouviu cantar aos bois, tão mansinhos, para que se chegassem ao rêgo, nunca ouviu coisa tão encantadora e sem termo de qualquer comparação. E depois, era o chilrear da passarada, aos bandos, sôfrega, esgaravatando na terra revolvida pelo ferro da charrua à cata de toda a variedade de bichinhos e pequenas sementes mas, sobretudo, das saborosas minhocas, viscosas, uma iguaria de primeira plana. Ratoeiras ao longo da terra lavrada eram logo armadas com o correspondente isco, sempre a dar-a-dar presas por um fio fininho, de fusível, ajustado á volta do corpo daquelas bichezas insignificantes mas, que valiam ouro. Formiga d'asa ou "trela" (uns bicharocos amarelo-torrado, cilíndricos e luzidios, que se criavam nas manjedouras das vacas leiteiras. Pardais, alvéolas ("arvelas" e "arvelins", como nós lhes chamávamos), piscos, taralhões caíam, de quando em vez, no engodo. E os passarinhos, coitaditos, com o pescoço entalado na ratoeira, estavam feitos. E nós, os rapazelhos, tramados, não nos fazíamos rogados...Fritos eram um pitéu.
Depois da lavra, semente à terra. Trigo, aveia (utilizada na alimentação do gado leiteiro), eventualmente, fava no meio da aveia. O trabalhador, com uma enorme sacola de serapilheira ao ombro lançava (com um movimento de braço muito próprio) a semente à terra na quantidade adequada.
Oh! João...Depois sim, entrava a grade para cobrir a semente e alisar a terra arroteada. Então, era a tal loucura...À "ganância", saltávamos para o lombo da bicha e, escarranchados na dita, lá íamos. Sempre, sempre na galhofa, num gozo de estarrecer...Era assim...Enquanto havia grade, boleias, daquelas, eram o máximo.
Depois, vinham os ralhos: "Seus malandros, olhem que ainda se aleijam. Saiam daí p'ra fora". Coitado do meu pai, sempre preocupado com a nossa segurança!
E pronto, esta é história das minhas boleias na grade que jamais esquecerei...

Um abraço de muita amizade

Fausto Castelhano

Fausto disse...

Olá João e Júlio Amorim

Naquele edifício na Estrada de Benfica antes de se chegar ao Fonte Nova, era onde as "Alunas" do Magistério Primário estavam hospedadas (aquelas que viviam longe de Lisboa) Era uma espécie de "República". A mim e ao meu irmão Carlos, calhou-nos, por coincidência, duas irmãs muito simpáticas que foram, por mais de uma vez, a minha casa conhecer a minha mãe e o meu pai.
As "Alunas" acompanhavam-nos nas nossas tarefas escolares com muita dedicação...
Quando acabavam o curso do Magistério Primário estavam prontas a leccionar.

Um abraço
Fausto

Fausto disse...

Amigos João e Júlio Amorim

As palavras são como as cerejas.
No seminário de Carnide não sei se lá existem freiras. Frades Franciscanos sim. Mas vou indagar porque tenho lá um bom amigo, o padre Filipe que, também, pertence à Ordem de S.Francisco. Os Franciscanos vendem esses produtos tendo por base o "aloé vera". Pomadas, xaropes, cremes, etc.
Creio que é um bom negócio.
No Convento de Santo António do Varatojo (Ordem de S.Francisco), localizado numa aldeia perto de Torres Vedras (Estrada da Ericeira para Torres Vedras) vendem, exactamente, os mesmíssimos produtos que, de facto, têm muita procura.
E, já agora, para lhes aguçar a curiosidade, eu que sou filho de Benfica, das duas vezes que me casei, pela Igreja(imaginem!), fui direitinho à Igreja da Luz e, as minhas duas filhas, também foram lá baptizadas. Não dá para entender.Há qualquer coisa que não bate certo.

Um abraço

Fausto

Julio Amorim disse...

E desta "brincadeira" na Estrada de Benfica, recordo-me bem:

http://3.bp.blogspot.com/_BcKnG_zCe_k/S2G3j32EpdI/AAAAAAAAwH0/tGk7Dp_LsFU/s1600-h/untitled-5.bmp

Andar "à pendura" tinha os seus riscos...pois tratava-se de saltar com o eléctrico em alta velocidade ou, deixar o revisor chegar o mais pertinho possível. Passados uns anos, a brincadeira perdeu a piada quando um de nós ficou sem uma perna. Hoje só de pensar que algum dos meus filhos poderia andar assim pendurado num eléctrico....dá arrepios.

João disse...

Fausto disse (28 de Janeiro de 2010 21:33)

"No Convento de Santo António do Varatojo (Ordem de S.Francisco), localizado numa aldeia perto de Torres Vedras..."

Não me diga que começou aí a vocação do Vítor Melícias, padre franciscano natural da região de Torres Vedras e que hoje em dia também vive no Seminário de Carnide... ;-)

Estava com alguma esperança que o Fausto tivesse podido confirmar se a tal casa de freiras existia ou não ali na base da encosta onde está hoje a Escola Superior de Comunicação Social, mas pelos vistos o meu imaginário é capaz de me ter traído...


Julio Amorim disse (29 de Janeiro de 2010 11:16)

"Andar "à pendura" tinha os seus riscos... pois tratava-se de saltar com o eléctrico em alta velocidade ou, deixar o revisor chegar o mais pertinho possível. Passados uns anos, a brincadeira perdeu a piada quando um de nós ficou sem uma perna. Hoje só de pensar que algum dos meus filhos poderia andar assim pendurado num eléctrico... dá arrepios."

Se o meu (falecido) pai alguma vez tivesse sabido que eu também pratiquei essa "modalidade desportiva", estou convencido que eu levava uma tareia que nunca mais me levantava. Quando se é puto, fazem-se coisas verdadeiramente estúpidas.

Aquele troço "emparedado" de um lado pelos Pupilos do Exército e a Fábrica de Peles e do outro pelo Bairro Grandela e o Laboratório dos TLP, era onde os eléctricos mais embalavam. Descer aí em andamento, constituia um enorme risco para a integridade física de qualquer um. Só de me lembrar disso, arrepio-me.

Lembro-me que o maior desafio, embora em velocidade relativamente lenta, era conseguir descer em sentido oposto ao da direcção do eléctrico, tal como faziam os ardinas com a sacola dos jornais às costas. Atingir tal "nível de desempenho" era só para campeões... ;-)

Alexa disse...

Caros Amigos: mas que magnífico desfiar de memórias que para aqui vai! ;)
Quase se torna difícil acompanhar-vos :)

Já falámos sobre o Palacete mencionado pelo Júlio, onde viviam os estagiários do curso de professores aqui:
http://retalhosdebemfica.blogspot.com/2009/08/em-busca-de-iii.html
E o Jorge Resende também o referiu na sua entrevista na rubrica "Gente de Benfica".

Fausto, muito obrigada pela partilha das suas "memórias agrícolas" que, muitos de nós, mais jovens, desconhecemos mesmo (não fora o facto de ter feito trabalho de campo em Santarém, numa pequena aldeia, jamais conheceria tal coisa, pois sou alfacinha de gema ;)
Essa quinta onde viveu, situava-se em Benfica?

Da "boleia na grade" passamos para o "andar à pendura"... :)
Imagino as tropelias que nessa altura não se fariam, e o perigo que delas derivava de facto.

Quanto à Igreja da Luz, Fausto, deve ter mesmo uma estranha mística, pois uma vizinha minha de prédio, nascida e criada em Benfica, também se casou na dita Igreja e aí baptizou os filhos.
Porque será?

Um abraço a todos

João disse...

"Quanto à Igreja da Luz, Fausto, deve ter mesmo uma estranha mística, pois..."

É muito bem capaz de ter... Eu, que até sou ateu (ou pelo menos agnóstico), que não sou casado pela igreja e que o meu filho não é baptizado, sempre que passo a pé junto da Igreja da Luz entro lá para, muito respeitosamente, usufruir de 5 ou 10 minutos de paz de espírito e meditação. Porque será...?!

Julio Amorim disse...

Pois, pois, essas descidas "à ardina" eram um bocadinho perigosas....mas tinham bastante estilo...;-)

Fausto disse...

Amigos João e Júlio Amorim

Vou tentar responder, por atacado, a todos os questões que verteram nas vossas mensagens uma vez que, já me tinha apercebido que os meus caros amigos, pelos indícios, parece que estão apostados em me “tramar à má fila” ou a confundir-me (no bom sentido, claro está) com as memórias de tempos tão longínquos.
a) Victor Melícias é um passarão de altíssimos voos. Não sei se o fulanaço, no início da sua estonteante carreira, alguma vez estacionou no Convento de Santo António do Varatojo. Se assim foi, pisgou-se rapidamente e a grande velocidade. Aquele bucólico ambiente era curtíssimo para as suas desmedidas ambições.
O sagaz fradinho, um ronha de primeiríssima ordem, sabe-a toda. Se agora está a estagiar, “à grande e à francesa”, no Seminário de Carnide, cuidado! Personagem cintilante do Jet-set nacional, move-se com o maior à-vontade e descaramento pelas alfurjas do Poder. Acumula reformas milionárias, um fartote. Duvido que, quando chegar a hora de entregar a alma ao Criador, o S. Pedro lhe vá franquear os portões do cobiçado Paraíso. Benza-o Deus...

b) Quanto às nossas queridas freiras que tanto nos tem preocupado, penso que o imaginário do João não falhou. O mistério (e estou convencido disso), poderá estar deslindado em breve. É gente muito simpática e tal. Aquando do baptizado do meu sobrinho Fernando na Igreja de S. Sebastião da Pedreira, quem é que me calhou na rifa como madrinha? Exactamente! Uma jovem freirinha toda catita...Afinal, sou mesmo um sortudo!

c) Quanto aos meus dois casamentos e os baptizados das minhas filhas pela Santa Madre Igreja Católica e Romana não haverá muito que dizer. Embora filho de Benfica e, também, residente, todas estas bonitas cerimónias se realizaram na Igreja de Nossa Senhora da Luz. É uma história antiga que, se calhar um dia desvendarei nas calmarias…ou não. Mas, também, esta questão está impregnada de muita mística. Todavia, julgo que são apenas pormenores que não querem dizer absolutamente nada e não alteraram as minhas convicções. Ateu, sim! Graças a Deus!

e) Com respeito às Igrejas. Faço parte dos Corpos Sociais de uma Associação de Artes e Cultura, a STIMULI/UNISBEN que já ultrapassou a fasquia dos 450 alunos. Pois bem, nas nossas visitas de estudo, nos passeios e em muitas das iniciativas desta Associação Intergeracional, sempre estão incluídos mosteiros, conventos, igrejas. É um maná! Os seus recheios, riquíssimos. Uma autêntica maravilha. Visitem-nas o mais que possam e, se possível, com um bom guia devidamente credenciado para a função. É um conselho de amigalhaço.

f) Quanto às boleias nos eléctricos, comigo, era canja. Actividade um pouco arriscada! Pelo menos, havia que ter uma agilidade felina senão, quem sofria era o “canastro” da rapaziada. Sempre preferi os eléctricos que tinham o estribo ao longo de todo o comprimento por serem mais baixos. Fui praticante desta magnífica actividade durante algum tempo mas, abandonei por motivo de força maior. Foi depois de ter mergulhado no empedrado frente à Farmácia União. Ficou-me de emenda aquele valentíssimo trambolhão.
Os ardinas, eram exímios. Desciam dos eléctricos de qualquer maneira e feitio e, depois, aterravam em grande estilo. Uns portentos. Insuperáveis. Não havia quem lhes levasse a palma.

E pronto. Espero ter correspondido a todas as questões que foram lançadas com toda a pertinência através deste magnífico BLOG.

Um abraço de amizade
Fausto Castelhano

Fausto disse...

Olá Alexa
Peço desde já desculpa por algo que a possa melindrar no que diz respeito ao conteúdo deste meu comentário. Pensei que a minha querida amiga já se tinha apercebido que Benfica, e não faz muitos anos, era apenas um território de quintas e mais quintas com uma substancial produção agrícola. Umas enormes, outras nem tanto e que, no seu regaço, albergava uma modesta e mui simpática aldeiazinha. Com muita "pinta". Era assim mesmo! Mas, com malta muito fixe, porreiraça…

Um abraço do Fausto

Alexa disse...

Amigo Fausto: não me melindrou de modo algum.
E sim, logicamente, que tinha conhecimento do passado rural de Benfica, apesar de não ter ainda cá chegado nessa altura (já só apanhei a decadência e morte desse mesmo Passado).

No entanto, peço desculpa se o ofendi quando lhe perguntei se a quinta onde viveu era em Benfica.
Mas, como também deve saber, Benfica nesses tempos (e mesmo agora) também era composta por muita gente vinda de outras paragens)...

Um abraço amigo

Fausto disse...

Quando as freiras vendiam ovos na Escola Normal

Caro João
Finalmente vamos deslindar o tal mistério das freiras que, amiúde, vendiam ovos e leite nas redondezas da Escola Normal que o meu amigo frequentou. É possível que, na Escola Primária nº 47 que eu frequentei, cá em baixo junto à Cozinha Económica (Sopa do Barroso ou do Sidónio) elas, devido a uma maior distância, nunca lá fossem fazer esse tipo de transacções. De resto, os coelhos e as galinhas (já preparadinhos para o tacho), as braçadas de flores (especialmente rosas) e os ovos que por lá apareciam, era a minha mãe que os oferecia às tais professoras muito "bravas" que, a bem ou a mal, nos obrigavam a ter tudo na ponta da língua.
De facto, eu desconhecia esta curiosíssima história e, quando veio "à baila" este assunto (que o amigo foi desencantar nos escaninhos mais profundos da suas memórias) lembrei-me, logo, das freiras da Congregação das Terceiras Dominicanas do Palácio Devisme, no Largo de S.Domingos de Benfica (que visitei o ano passado integrado num grupo da STIMULI/UNISBEN) e que se dedicam a obras assistenciais. Existe lá uma instituição de recuperação feminina (Reformatório), o Colégio de S.José. Porém, imediatamente descartei essa hipótese uma vez que, o nosso amigo João se referiu às abas que deitavam para o Calhariz de Benfica. Exactamente. Para as abas que desciam para a Estrada do Calhariz de Benfica, o chamado Monte Coxe (parece que era assim que se escrevia). Aí, existia uma propriedade dum tal Pais Borges e onde, uma congregação de freiras lá estavam instaladas e desenvolviam a sua meritória acção assistencial, ao apoio às crianças carenciadas e aos órfãos. Era uma quinta de razoável dimensão onde existia um enorme tanque de água (uma autêntica piscina) e, aí sim, cheguei lá tomar banho com a malta amiga.
Portanto, era lá que as freiras se dedicavam à criação de galinhas, outros animais domésticos e, provavelmente, a alguma produção hortícola. Assim, angariavam alguns proventos para o seu sustento e das crianças que estavam à sua responsabilidade. E, como é evidente, a outras despesas inerentes a uma obra, sem dúvida, digna de registo.
Para chegarmos aqui, tive que me socorrer do meu amigo António Augusto, o "António da Farmácia" (uma memória incrível), uns anos mais velho que eu, que frequentou a Escola Normal e que se lembra, perfeitamente, da venda de ovos que se fazia por ali. Mais tarde, o "António da Farmácia" viu-se envolvido num caso de polícia (acusado de emprestar dinheiro para fuga) quando o seu barbeiro habitual resolveu apaixonar-se por uma das raparigas dessa instituição(ainda menor) e fugir com ela. Foram apanhados, mais tarde, na zona de Carnide.
E pronto, amigo João. Afinal, não era nenhuma imaginação sua mas, um real e saboroso episódio que, porventura, já estaria um pouco diluído, pelo tempo, na sua memória.

Um abraço de muita amizade

Fausto Castelhano

Obs. O Palácio e Quinta Devisme ou da Infanta deve o seu nome aos antigos proprietários: o inglês Devisme que, entretanto, vendeu a propriedade ao 3º Marquês de Abrantes. Este revendeu à Infanta D. Isabel em 1834.
Mais tarde, foi o Colégio de S.José e hoje, é uma institução de recuperação juvenil feminina (reformatório).

Alexa disse...

Amigo Fausto: muitíssimo obrigada a si e ao seu amigo António Augusto ("António da Farmácia") por nos terem desvendado o "mistério" das tais freiras, sobre as quais o João se indagava!

Um abraço

Fausto disse...

Rectificação

Depois de uma pequena pesquisa, verifiquei que o nome atribuído ao sítio próximo do edifício do antigo Magistério Primário não é Monte Coxe como referi no meu comentário anterior, mas sim, Montecuche. É assim que vem mencionado nas publicações mais antigas.

Fausto Castelhano

João disse...

O nome correcto é, de facto, Montecuche. Essa designação aparece num artigo do Coronel Carlos Dias de Almeida, intitulado "A velha Estrada de Benfica". E, pelos vistos, terá sido nessa mesma quinta que veio a falecer Rodrigo Brandão da Fonseca Magalhães, 2º conde de Geraz do Lima. Last but not least, ficamos então todos a saber que foi na Quinta de Montecuche, em Benfica, que o João, com os seus 7 ou 8 anitos de idade, teve a sua primeira e única experiência de andar à boleia de uma junta de bois... ;-)

João disse...

Fausto, esquecia-me de lhe agradecer o facto de ter conseguido confirmar a existência da tal casa das freiras. E, já agora, permita-me que lhe diga que os seus considerandos sobre o Pe. Vítor Melícias se aproximam, literariamente falando, da "verve" muito típica de Eça de Queiroz ou Aquilino Ribeiro. Um autêntico tratado!

Fausto disse...

Olá amigo João

Não tem que agradecer. Foi um enorme prazer conseguirmos levar a nau a bom porto. Quanto aos autores que mencionou, são ambos do meu agrado, especialmente mestre Aquilino.
Quanto aos bois, se calhar, ainda um dia voltaremos a falar de tão simpáticos quanto possantes animais.

Um abraço de amizade

Fausto Castelhano

Alexa disse...

Amigo Fausto: com que então, falámos dos bois mais cedo do que se esperava, ah?! ;)
Esta foi em honra do nosso amigo João, não? ;)

Um abraço e muito obrigada

Fausto disse...

Olá Alexa

É verdade! Realmente, a culpa foi um pouco do João ao ter levantado a boleia na grade. Olhe, foi o suficiente para vir tudo de cambulhada e acho que a avalanche ainda não se deteve. Depois, eu vivi no meio de tudo isto. Onde quer que encontre este animais, pachorrentos, meigos, pode crer...não resisto. são logo contemplados com uma festinha no focinho. Nos meios urbanos, todo este encanto se perdeu todavia, eles andam por aí, basta procurá-los...
Só quem nunca levou com um esguicho de leite directamente da teta da vaca, não vai imaginar o grau de prazer que nos causava...Aqueles vaqueiros...que boa gente!

Fausto Castelhano

Alexa disse...

Amigo Fausto: bendita a hora em que o João falou, então, na "boleia na grade", pois permitiu-nos ler o seu fabuloso texto sobre o boi "Castiço" ;)

Ficamos a aguardar as próximas cenas dessa sua "avalanche" de memórias :)

Um grande abraço

Helena disse...

espectáculo! ;)))

Anónimo disse...

Frequentei a Escola Primária António Maria dos Santos, juntamente com a minha irmã (1977/78) que estava na classe seguinte. A Professora D.Virgínia,leccionava duas classes ao mesmo tempo, na mesma sala!
Lembro-me bem das mesas com tampo de levantar e das garrafinhas de leite que nos davam ao lanche.
Claudia Garção

Elisa Almeida disse...

Olá Alexa. Eu chamo-me Elisa e andei nessa escola na 1ªclasse no ano letivo de 1960-1961. Acho que foi neste ano porque tinha 6 anos (nasci em maio de 1954). Nesse ano, a minha irmã que tinha 8 anos, andava na mesma escola (e sala, claro) na 3ª classe. Er frequente as professoras lecionarem dois, ou mais, anos diferentes. A minha professora chamava-se Amélia, mas como, até à data, ninguém tem referido este nome, fico na dúvida se seria mesmo esse o nome dela. Gostaria de saber se terá alguma informação sobre se existirá algum arquivo fotográfico das alunas desse ano ou de outros anos. Muito grata pela sua atenção, na esperança de que me possa ajudar. Forte abraço. Maria Elisa Duarte de Almeida.