domingo, 29 de agosto de 2010

Tentativa de assalto na Vila Ventura





Fotografia de Alexandra Carvalho





Esta madrugada (29/08/10) o R/c da Vila Ventura foi alvo de uma tentativa de entrada forçada e de assalto.

Felizmente, o/s ladrões não conseguiram entrar. Mas os Moradores-Inquilinos estão com muito receio sobre a possibilidade de uma nova investida.

Depois de o Movimento de Cidadãos e os Moradores-Inquilinos já terem alertado por diversas vezes a C.M.Lisboa, a Assembleia Municipal de Lisboa e a Esquadra de Benfica sobre a gravidade da situação em que se encontram estas duas Vilas (bem como sobre a entrada forçada nas traseiras da Vila Ana, depois desta ter sido entaipada), esperamos, sinceramente, que a partir de agora, em particular a PSP tenha mais atenção a esta situação (ou então, melhore o seu Programa de Policiamento de Proximidade, sobre o qual já falámos aqui).




sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"Farmácia impedida de continuar aberta 24 horas por dia"




27.08.2010 - Por Romana Borja-Santos
In "Público"


Infarmed proibiu o horário após queixa da concorrência. Mas em 2008 deu o seu acordo tácito ao pedido de alteração que recebeu.



Fotografia de Sara Matos, in artigo do "Público"



A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) proibiu uma farmácia de Lisboa de continuar aberta entre as 24h e as 6h. O estabelecimento estava aberto 24 horas por dia desde 1 de Janeiro de 2009, tendo para tal comunicado aao regulador, quase seis meses antes, que ia proceder a uma alteração do horário, tornando-se na primeira farmácia de oficina com este horário, e sem cobrar taxa por isso. Em 2008 o Infarmed não respondeu à carta, dando assim o seu acordo tácito, como está previsto na lei. Mas após uma inspecção desencadeada na sequência de uma queixa de um grupo de farmácias concorrentes na zona, impediu o estabelecimento de continuar a funcionar neste horário alargado. Contudo, o PÚBLICO sabe que há várias farmácias abertas 24 horas na zona de Lisboa.

A decisão do Infarmed contraria a política anunciada há dois anos pelo primeiro-ministro no âmbito da liberalização da propriedade, com o objectivo de incentivar as farmácias a "ficarem abertas até mais tarde, de acordo com os interesses das pessoas". Uma das medidas, recorde-se, foi a abertura 24 horas por dia das farmácias hospitalares. O PÚBLICO questionou o ministério com esta situação que remeteu explicações para o Infarmed. O instituto que regula o sector não esclareceu, porém, a sua alteração de posição, afirmando apenas que na inspecção foram "identificadas irregularidades no cumprimento da legislação aplicável aos horários de funcionamento de uma farmácia" e que o estabelecimento acatou a ordem, pois, "caso a farmácia persistisse no ilícito, o Infarmed procederia ao encerramento coercivo" da mesma.

A acção do Infarmed relativa à farmácia Uruguai, em Benfica, e que pertence ao grupo da Associação de Farmácias de Portugal, aconteceu em Junho e surge depois das seis farmácias, que pertencem à Associação Nacional de Farmácias, terem interposto em Maio uma providência cautelar no Tribunal Administrativo de Lisboa contra a Uruguai e contra o Infarmed.

As farmácias Benfica, Benfiluz, União, Santa Cruz, Lavinha e Gouveia, através da sociedade de advogados PLMJ, alegam que a Uruguai viola o horário máximo estipulado na lei [ver caixa] e acusam o Infarmed de não ter reposto a legalidade, depois de uma carta da ANF ter alertado para o efeito ainda em Abril de 2009 e de as seis farmácias terem feito o mesmo em Março deste ano. O grupo que apresentou a queixa insiste que a concorrente só pode estar aberta entre as 6h e as 24h e que o horário alargado causou "enormes prejuízos às requerentes que se localizam territorialmente na mesma zona de influência da farmácia Uruguai e cumprem escrupulosamente" a lei. Com efeito, o PÚBLICO confirmou que todas operam apenas entre as 6h e 20h. Mas a directora técnica da farmácia Uruguai garantiu ao PÚBLICO que duas das concorrentes "não têm o horário visível como diz a mesma lei". Elisabete Lopes explicou que em 2008, como a lei obriga, à semelhança do que fez com o Infarmed, informou a Câmara de Lisboa e a ARS de Lisboa da intenção de mudança, não tendo também obtido resposta escrita. "Mas por telefone a ARS até me perguntou se eu estava ciente da exigência", contou a responsável. A farmácia que tinha na altura oito funcionários duplicou o número e fez obras nas instalações, o que implicou a compra de um robot de 200 mil euros. O PÚBLICO tentou ouvir a ARS de Lisboa, sem sucesso. "A lei não diz que não podemos estar abertos. Além disso, é um bom serviço que estamos a prestar e o que mais custa é que as outras farmácias que falam em dificuldades financeiras nem estenderam os seus horários até às 24h. E só se queixam de serem prejudicadas nos dias em que estão de serviço, que são uns 18 por ano", acrescentou Elisabete Lopes. A farmacêutica contou ainda que a Junta de Freguesia de Benfica já manifestou o seu apoio ao projecto e que está a circular um abaixo-assinado que ultrapassa as 1000 assinaturas.

Legislação sobre horários é confusa

A legislação sobre os horários das farmácias obriga a um pingue-pongue entre duas leis e ainda a ver as excepções que cada câmara municipal pode introduzir. Se olharmos para o Decreto-lei n.º 53/2007, que regula o horário de funcionamento das farmácias de oficina e onde se lê que "o Governo entende, de acordo com a política de acessibilidade ao medicamento, que deve fomentar o alargado período de funcionamento" das mesmas, é explicado que há o "limite mínimo de 55 horas" e o "limite máximo previsto para os estabelecimentos de venda ao público e de prestação de serviços". O regime geral do Decreto-lei n.º 48/96 fala de um horário entre as 6h e as 24h, dá exemplos de excepções como os postos de abastecimento e diz que as autarquias podem "restringir ou alargar os limites", mas nada refere sobre as farmácias.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

"Memórias fantásticas de quando era criança..."




"Ainda moro em Benfica mas tenho memórias fantásticas de quando era criança.

Às vezes depois de almoço arranjava um saco com pão duro e ia com o meu avô à
Mata de Benfica deitar migalhas aos patos. Apanhávamos folhas de amoreira na Av. Grão Vasco para dar aos bichinhos da seda.

Quando o meu avô recebia a reforma levava-me a comer mousse de chocolate (no tempo em que eu ainda gostava de mousse de chocolate) e eu fazia questão de lhe pedir o lenço de pano que ele trazia sempre no bolso para limpar a boca.

Hoje acho que os lenços de pano do meu avô tinham um significado afectivo, é claro que o café tinha guardanapos de papel, mas limpar a boca a um guardanapo de papel depois de um gelado ou de uma mousse de chocolate não sabia ao mesmo.


A primeira vez em que fui ao cinema, acho que ainda nem andava na escola, foi no Turim, para ver a Branca de Neve.


Adorava estar na varanda da sala, montada num cavalo de madeira que na altura todos os miúdos tinham, a ver as pessoas a passar.

O 24, o autocarro, passava (e ainda passa) aqui à porta, e eu achava que tinha o nº 24 porque funcionava até às 24 horas. Apanhei uma grande desilusão quando me explicaram que não era nada por isso.




"Na paragem do autocarro - 2"
Fotografia de JCDuarte


"Na paragem do autocarro - 1"
Fotografia de JCDuarte



Lembro-me da primeira mochila que tive, quando entrei na escola, e de onde a comprei. Foi numa papelaria velhinha que ainda existe ao pé da Igreja de Benfica. Só não me lembro exactamente se a mochila era azul ou amarela.


Uma vez a minha avó comprou-me um conjunto em branco e preto com um padrão de laços. Pedi-lhe para ir logo com a roupa nova vestida e toda a gente olhava para mim na rua.
Hoje, acredito sinceramente que estava muito pirosa e por isso é que as pessoas olhavam, mas na altura senti-me uma princesa.
"


Testemunho de Ana Fernandes, in "As Vossas Memórias de Benfica", na nossa página no Facebook.







segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Campanha de Legalização das Colónias de Gatos Errantes da Freguesia de Benfica




Na freguesia de Benfica, à semelhança do que sucede noutros bairros, existem inúmeros animais abandonados ou nascidos na rua.

Fruto da negligência humana e da falta de responsabilização da nossa sociedade no que diz respeito aos direitos dos animais, para esses animais a única solução que a estrutura municipal concebe é a do seu encarceramento no Canil/Gatil Municipal de Lisboa e o abate ao fim de 8 dias (se não tiverem a sorte de, antes disso, serem adoptados).
Mas a solução para o flagelo dos animais de estimação abandonados em Portugal e dos animais nascidos na rua não passa, de modo algum (nem deveria passar!), pela tomada de medidas tão extremas, como tem sido apanágio até à data.

A solução passa, em primeiro lugar, pelo desenvolvimento gradual na sociedade portuguesa de uma consciência cívica para o facto dos animais não serem objectos, nem tão pouco seres inferiores ao Homem: se nos encontramos nesta Terra há milhares de anos, já deveríamos ter aprendido a respeitar o meio ambiente e os outros seres vivos com os quais partilhamos o planeta (infelizmente, a esse nível, o Homem parece ter regredido consideravelmente!).
Só através da promoção de uma educação cívica para o respeito para com os animais desde tenra idade se poderão desenvolver as bases para uma sociedade futura em que o Homem e todos os animais possam viver em harmonia.

Paralelamente, assume grande importância o controle populacional dos animais de rua, através das esterilizações, de modo a reduzir o número de animais errantes.
Algumas dessas iniciativas foram lançadas por voluntários, noutros pontos de Lisboa, mas não têm até à data incluído a nossa freguesia.

Nesse sentido, nasceu a "Campanha de Legalização das Colónias de Gatos Errantes da Freguesia de Benfica"...





[clicar na imagem para ampliar
e ler todas as informações sobre esta Campanha]





Fruto de uma iniciativa da sociedade civil (através de uma residente de Benfica), esta Campanha de Legalização das Colónias de Gatos Errantes da Freguesia de Benfica, encontra-se a ser implementada ao abrigo do Programa CER do Canil/Gatil Municipal de Lisboa, contando ainda com o apoio da Junta de Freguesia de Benfica.

Se protege e alimenta alguma colónia de gatos de rua e os pretende esterilizar ao abrigo desta Campanha... Ou se, simplesmente, pretende ajudar a título voluntário nas diversas acções empreendidas nesta Campanha... contacte a pessoa indicada no anúncio acima.

Os animais agradecem!...









domingo, 22 de agosto de 2010

O 25 de Abril e a RTP (IV)





Todos os direitos reservados @ Fausto Castelhano, "Retalhos de Bem-Fica" (2010)



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(ou quando o Movimento das Forças Armadas se esqueceu de “conquistar” o Centro Emissor de Monsanto…


(por Fausto Castelhano)




Sugestiva alegoria do 25 de Abril de 1974 e que deu a volta ao mundo… As balas transfiguraram-se em cravos vermelhos! Prenúncio de um processo que se ia apercebendo no horizonte o qual, por simples acaso ou não, visava a impunidade geral e absoluta do regime deposto (governantes, instituições, agentes, serventuários p’ra todo o serviço, etc.) que carregava às costas um infindável rol de hediondas malfeitorias e das quais, era inteiramente responsável… Assim, permanece a insanável dúvida… Será que foi a melhor opção, isto é, as florinhas enfiadas no cano das armas?




Cronologia do dia 25 de Abril de 1974 no Centro Emissor de Monsanto


Capítulo 4



Por volta das 16.00 horas, inesperadamente, tudo se precipitou a uma velocidade “do camandro”. Enquanto a pressão popular se tornava massiva na Estrada da Belavista, apertando o cerco às instalações do Centro Emissor de Monsanto, o Coronel AUGUSTO BAGORRA (Chefe do Serviço de Segurança da RTP) convocou-nos para junto da secretária do contínuo/vigilante no pequeno hall (contígua à porta de entrada da Sala do Emissores). Informou-nos da intenção de abandonar o Emissor de Monsanto o mais rapidamente possível e apresentou-nos um documento, já assinado, onde esclarecia a sua atitude e, também, a intenção da entrega da sua arma pessoal (pistola de guerra) e da qual ficaríamos fiéis depositantes. Concordámos, plenamente, com tal sugestão, assinámos o documento como nos solicitou, recolhemos a arma (que entregámos, assim como o documento, ao oficial do MFA que, muito mais tarde, comandou a força militar de ocupação do Centro Emissor de Monsanto) e despedimo-nos pacificamente…
Graças ao pequenino e insignificante rádio de bolso continuávamos a escutar, sofregamente, a informação que nos chegava através das ondas radioeléctricas: SALGUEIRO MAIA ordena o disparo de nova rajada sobre a fachada do Quartel do Carmo (15:45 horas); forças militares do CIOE (16:00 horas) cercam os Estúdios da RTP do Monte da Virgem e do RCP (Rua Tenente Valadim, Porto) a fim de proceder à sua ocupação (in, “Abril de Novo”); elementos da PIDE/DGS abrem fogo sobre a multidão que, entretanto, cercava a sede da Rua António Maria Cardoso, em Lisboa. Vários feridos e 1 morto (16:15 horas); forças da PSP, empunhando bastões, descarregam sobre populares e manifestantes na Avenida dos Aliados, no Porto (16:30 horas); ocupados os Ministérios, o Aeroporto da Portela, a Legião Portuguesa (Penha de França), o Banco de Portugal; o cerco ao Quartel do Carmo da GNR onde MARCELO CAETANO e alguns ministros se encontravam refugiados; milhares de pessoas, contrariando os apelos do MFA, vêm p’rá rua e rodeiam as Forças Armadas em grandes manifestações de júbilo (in, “Abril de Novo”); SALGUEIRO MAIA entra no Quartel do Carmo com o objectivo de exigir a rendição de MARCELO CAETANO (17:00 horas); novo comunicado do MFA (17:30 horas); António de Spínola entra no Quartel do Carmo (17:45 horas); SALGUEIRO MAIA ordena à população que abandone a zona do Quartel do Carmo. O apelo é completamente ignorado (18:15 horas); novo comunicado do MFA informando a rendição do Governo (18:20 horas); o “chaimite” Bula que levaria, para sempre, MARCELO CAETANO, transpõe as portas do Quartel do Carmo (18:30 horas); etc. E o entusiasmo avassalador da população… Era o fim duma época negra…



Ao fundo, encostada ao muro da vedação que a separa da Estrada da Belavista, a famosa casota do nosso amigo TOP onde os sabotadores esconderam a válvula electrónica RS1011 do andar final do Emissor de Imagem do Emissor do 1º Programa da RTP. À esquerda, o pinheiro manso, à sombra do qual uns anos mais tarde (1982), foi sepultado o TOP numa singela, mas sentida cerimónia que nos comoveu a todos. Neste local e na década de 90 do Século XX foi erguida a torre de betão da PT-Portugal Telecom.
(1971 - Foto de Fausto Castelhano)



Um pouco depois das 17:00 horas e sem dizer “água vai”, o intratável Capitão EDUARDO ALARCÃO levantou âncora e zarpou! (mais tarde, soubemos que se dirigira aos Estúdios do Lumiar e se fora colocar ao dispor dos militares que ocupavam, desde a madrugada, os Estúdios do Lumiar da RTP… Estes, perceberam a marosca, evitaram a finta e deitaram-lhe a “ganchorra” sem apelo nem agravo… Amargurou, alguns meses, engavetado no chilindró! Justamente? Pensamos que sim…
Agora, um novo e favorável quadro se abria em toda a extensão! O tempo urgia e não havia um minuto a perder… Reunimos os quatro elementos da GNR a quem expusemos a real situação do que estava a ocorrer a nível do país… Foram informados de que o governo acabara de pedir a rendição incondicional e, para eles próprios (o número de populares ia engrossando na Estrada da Belavista), seria preferível abandonar as instalações do Centro Emissor de Monsanto. Aliviados, aceitaram de bom grado e sem pestanejar tão amigável conselho solicitando, apenas, meio de transporte até ao Quartel da Ajuda… Replicámos que, em virtude do momento crítico que todos estávamos a viver, não existiam quaisquer condições no sentido de atender tal devaneio… As nossas prioridades imediatas fiavam mais fino… Que se desenrascassem! E assim foi… Deram corda às botas” e, ligeirinhos, desandaram “a butes”…
Então, desencadeou-se uma infernal correria contra-relógio. O vigilante ALMEIDA MOREIRA indicou-nos onde, ele próprio (sob ordens do Capitão ALARCÃO), escondera a válvula RS1011 do andar final do emissor de imagem: a casota do cão…



CUSTÓDIO MECHA DE FIGUEIREDO (em pé, o segundo a contar da esquerda. Guarda-redes) e FAUSTO CASTELHANO (em baixo, o primeiro a contar da esquerda) compareceram “à chamada” na madrugada do dia 25 de Abril de 1974 no Centro Emissor de Monsanto. A equipa de Futebol de Salão do CUY 37 do Centro Emissor de Monsanto e que participava nos campeonatos internos da RTP. CUSTÓDIO MECHA DE FIGUEIREDO faleceu no Verão de 1976 vítima de electrocussão no Emissor de Montejunto.
(Junho de 1968 – Foto de Fausto Castelhano)



Pelas escadas abaixo, corri até ao jardim… direitinho à casota do TOP. Sem demora, CUSTÓDIO FIGUEIREDO colocava a “válvula de reserva” no amplificador de 10KW… O emissor “arrancou”, mas com ínfima potência que nem sequer dava p’ra cantar um cego! Questão de sintonia do andar amplificador final a necessitar de algum retoque? Talvez… Já de posse da “válvula de serviço” (ocultada na casota do cão), foi retirada a “válvula de reserva” e colocada a válvula fugitiva… Uma certa ansiedade enquanto a totalidade dos circuitos do equipamento se “armavam”: 30 segundos! Arrancou normalmente, mas indicando potência reduzida… Afinal, os malandrins, cúmplices do decadente regime (já em fase de irreversível desagregação), numa acção maléfica e sem escrúpulos, não se limitaram a surripiar a “válvula de serviço” e depositá-la na casota do TOP… Remexeram, “à labúrdia”, nas sintonias do próprio amplificador de 10KW (sintonias de entrada e da grelha de comando, sintonia de placa e acoplamento de saída). Imediatamente, com rápidos e precisos reajustes nas diversas sintonias do andar amplificador e… já está! Foi trigo limpo! A emitir, normalmente, às 17:54 horas. Esta é, efectivamente, a hora exacta de entrada em “funcionamento normal” do emissor do 1º Programa da RTP que consta no “Livro de Ocorrências” do Centro Emissor de Monsanto no dia 25 de Abril de 1974.



FAUSTO CASTELHANO (em pé, o segundo a contar da esquerda), CARLOS CAMPOS e LUÍS DE SOUSA PEREIRA (em baixo, o primeiro e o terceiro a contar da esquerda) marcaram presença no dia 25 de Abril de 1974 no Centro Emissor de Monsanto. A equipa de Futebol de Salão (Veteranos) do CUY 37 do Centro Emissor de Monsanto e que participava nos campeonatos internos da RTP. CARLOS CAMPOS foi assassinado em Julho de 1993.
Dezembro de 1987 – Foto de Fausto Castelhano)



Então, os portões do Centro Emissor de Monsanto foram, por fim, escancarados de par em par…
“O emissor “ está no ar! Façam o favor de entrar”!
A festança explodiu e embandeirou em arco em menos d’um fósforo…
Gentes de todas as idades e condição social que, durante a tarde convergiram ao redor do Centro Emissor de Monsanto, avançaram num ambiente de enorme alegria e confraternização… Entre beijos e abraços, saltaram as rolhas das garrafas e os belos acepipes não falharam… Libertados de tanta tensão, enchemos o papo! Nunca fomos tão apaparicados…
Anoitecera e, quando a animada festa se encontrava no auge, surgiram os militares do MFA (julgo que o pelotão pertencia ao RIOQ (Regimento de Infantaria Operacional de Queluz) comandados por um jovem Capitão… Tardaram, mas chegaram! “Desculpem, atrasamo-nos um bocado”.
“Ora, não se incomodem. Está tudo bem… Acomodem-se e juntem-se à malta”. E assim foi! O fraternal convívio no Centro Emissor de Monsanto durou dias. Depois, naturalmente, amainou…



********************



O tal repórter curioso, Carlos Vaz Marques, “conseguiu saber como tudo se passou”! Mas… ao cabo e ao resto, a montanha pariu um ratinho, pequerrucho…

E agora, voltemos à gravação TSF/Rádio Notícias mencionada no CAPÍTULO 1 e reproduzir as opiniões ali expressas e, seguidamente, tecer alguns comentários:

LOCUÇÃO:
“Mas não ficamos por aqui na análise ao estranho silêncio, que permanece, na RTP. Sabe-se, agora, que se verificou resistência ao Movimento das Forças Armadas nas instalações do Emissor da RTP em Monsanto. CARLOS VAZ MARQUES da TSF, um menino, hoje um repórter curioso, hoje, 20 anos mais tarde, conseguiu saber como tudo se passou”.
CARLOS VAZ MARQUES:
“O segredo esteve guardado a tarde toda na casota do cão. Mas vamos por partes. Os Estúdios do Lumiar estão tomados desde as 03:00 Horas da manhã e os militares querem pôr a emissão no “ar”. (14)
Tentativas falhadas, umas atrás d’outras, recorda o historiador ANTÓNIO REIS, na altura Aspirante, e um dos homens que tomou os Estúdios do Lumiar. O Movimento tinha tomado os Estúdios mas tinha-se esquecido dos Emissores de Monsanto”.



Lá está ela! A celebérrima casota do TOP (cantada em verso e prosa) onde os sabotadores esconderam o objecto do crime.
(1971 - Foto de Fausto Castelhano)



ANTÓNIO REIS:
“Pelo menos, o Comando do Movimento, ou pelos vistos, esqueceu-se e nós começámos a entrar em contacto com o Posto de Comando da Pontinha. Então o que é isto, então nunca mais ocupam o Monsanto. E lá íamos prometendo que dentro de pouco tempo, esse objectivo estaria, também, ocupado. Mas as horas iam passando e nada”.
CARLOS VAZ MARQUES:
“No Monsanto, o capitão ALARCÃO resiste. Homem da Segurança da RTP, EDUARDO ALARCÃO sabotou o emissor com instruções à distância”.
Capitão EDUARDO ALARCÃO:
“Através do telefone, o engenheiro MATOS CORREIA (15) indicou-me que havia determinada válvula, disse-me onde ela estava e fui sozinho, tirei-a e isto é um episódio caricato mas que, pronto, eu reagi assim, a seco. Embrulhei-a muito bem, não podia ser danificada porque era caríssima e não havia outra para a substituir (“Quem te manda a ti sapateiro, tocar rabecão”). E portanto, a emissão para seguir tinha que vir através do Porto, eu sabia disso, mas o Porto é que era, normalmente, aquela que abriria com a Telescola”.
CARLOS VAZ MARQUES:
“Que é que fez à válvula que retirou lá do sítio onde estava?”
Capitão ALARCÃO:
“Isto é conhecido…Dei ao porteiro para meter dentro da casota do cão. Porque toda a gente tinha medo do cão (16) e portanto, era um sítio que me pareceu, logicamente, estava defendido, naturalmente.”



A válvula RS1011 surripiada do emissor da RTP 1 e ocultada num ardiloso esconderijo: a casota do cão.
(Foto de Mário Alves – Junho de 2010)



CARLOS VAZ MARQUES:
“O cão do regime impede a emissão dos capitães… No Lumiar começa a traçar-se um plano de acção”.
ANTÓNIO REIS:
“Já estávamos tão desesperados e ao mesmo tempo com uma certa vergonha de estarmos ali e não conseguirmos pôr a emissão no “ar” que chegou-se a pensar em enviar uma força especial, uma espécie de comando até Monsanto comandado pelo Alferes GERALDES, o Tenente CERDEIRA e o Cabo LOURO para desalojar o Capitão ALARCÃO dali e pôr a emissão no “ar” (parece que estava sozinho). Não havia sequer forças afectas ao regime que tivessem lá ido defendê-lo. Nós não sabíamos na altura se estava sozinho ou não estava. Havia um comando preparado para ir para lá”.
Corria o rumor de que os paraquedistas iriam ser largados sobre Monsanto e na RTP (Estúdios) receava-se pelo que pudesse ocorrer, quer aos colegas de trabalho, quer ao material de emissão.
CARLOS VAZ MARQUES:
“Comando que acabará por não entrar em acção. O caso só se resolve lá para o fim da tarde”.
ALFREDO TROPA:
“Lá para o fim da tarde (recorda o realizador ALFREDO TROPA), com uma mensagem em circuito interno, um cartão frente à câmara, a dar a entender a Monsanto que não valia a pena resistir e que tinha que passar a emissão para o Lumiar”.
CARLOS VAZ MARQUES:
“Com a mensagem no écran em circuito interno, EDUARDO ALARCÃO rende-se, finalmente. “Vinte anos depois, persiste a pergunta: Quem terá, afinal, ido buscar a válvula imprescindível? O regime, só depois de ter perdido o resto, perdeu as antenas, graças ao cão”.



O poiso favorito do TOP: debaixo do pinheiro… Dali, vigiava a entrada e farejava o inimigo… Em 1982, TOP foi sepultado aqui, à sombra da árvore. Neste local e na década de 90 do Século XX, foi erguida a nova torre de betão (com elevador) da PT-Portugal Telecom.
(Setembro de 1969- Foto de Fausto Castelhano)



Sim senhor! Afinal, ao repórter “que descobriu como tudo se passou” faltou-lhe o trabalhinho de casa, o básico, dever fundamental de um qualquer jornalista, investigador, etc. que se preze, isto é, ir lá, às fontes… Onde? Ao Centro Emissor de Monsanto… Assim, “investigou” o que todo o mundo já sabia de sobejo mas… falhou no essencial! Assim, a cousa saiu manca demais p’ró nosso gosto, sem o mínimo de rigor e seriedade! Apenas caganifâncias! Bem espremida, a fruta largou pouquíssimo sumo… P’ra tanto aparato, foi uma desilusão!
Vamos, então, destrinçar todo este baratucho papaguear… Como se frisou no CAPÍTULO 1, as culpas da tremendo badanal, então gerado no dia 25 de Abril de 1974 no Centro Emissor de Monsanto, devem ser assacadas, na íntegra, aos militares do MFA que, apressadamente, arrancaram para os Estúdios do Lumiar os quais, só por si eram, apenas, cenário vistoso e o rosto da RTP! E a questão é simples e resume-se a duas penadas: ou os militares do MFA se enganaram e nem sequer encontraram o trajecto para o Parque Florestal de Monsanto (os GPS ainda não tinham sido inventados) ou então, ignoravam, como é que a geringonça dum sistema de televisão em canal aberto funciona… E, se porventura, estavam a leste destes importantíssimos pormenores, mandava o bom senso precaverem-se, a tempo e horas, e tratar de se informarem, com a humildade requerida em casos extremos, junto de rapaziada de absolutíssima confiança… Onde? Em última instância, iam lá, ao Centro Emissor de Monsanto! Então… aonde é que poderia ser, senão ali? Seria, sem dúvida, sábia e sagaz atitude que lhes dariam louros acrescidos…
Quanto à válvula retirada do andar final do equipamento, não incomodou os técnicos… nem um cisco e, nem sequer lhes ia dar “a louca” por tão pouco... Era só o que faltava! O emissor principal da RTP (e da cidade de Lisboa) jamais esteve dependente, ou seja, seria impensável correr o risco de ficar de “calças na mão” por mor de, “apenas”, uma simples válvula electrónica, mesmo que o seu custo arrastasse uma quantia avultada… Um absurdo carecido de qualquer fundamento!
Realmente, não custa nada! Falar de borla e sem dados consistentes, escrevinhar e passar ao papel, gravar, seja em banda magnética ou em suporte digital! Efectivamente, no armário do material de reserva (no Laboratório contíguo à sala dos Emissores) existiam mais 2 válvulas RS1011: uma por estrear no Emissor de Imagem de 10 KW e outra, já usada neste emissor e de fraco rendimento que, em princípio, seria instalada no Emissor de Som (Potência: 2 KW). Isto é, tanto o Emissor de Som como o emissor de Imagem operavam com o mesmo tipo de válvula electrónica.



Parada do Centro Emissor de Monsanto. Os soldados perfilam-se, na posição de sentido, ao içar da bandeira. Um novo Quartel das Forças Armadas em pleno Parque Florestal de Monsanto? (Domingo, 29 de Abril de 1974 – Foto de Fausto Castelhano)



No Armazém Geral, situado no piso inferior, lá estavam, p’ró que desse e viesse, mais duas válvulas, caríssimas, de facto… Rondavam, nesse tempo, cerca de 400 contos… Repito: 400 contos… E os técnicos, calejados em fainas de alto coturno, eram os principais responsáveis pelo reposição de todo o material necessário. Era assim que, na realidade, tudo girava, metodicamente e sem embaraços!
No tocante ao Capitão EDUARDO ALARCÃO (que, afinal, não passava de um simples subordinado do Coronel AUGUSTO BAGORRA) confirmou-se, à posteriori, que recebera, telefonicamente, indicações concretas do engenheiro MATOS CORREIA (este, possuía vagas noções do funcionamento do emissor. Mais tarde, constituída a Comissão de Saneamento da RTP, seria saneado) e onde poderia sabotar o emissor do 1º Programa da RTP com o fito de impedir, a todo o custo, o seu funcionamento… Contudo, ao enveredarem por esta celerada manobra, os mariolas também se revelaram uns sabotadorzecos de meia-tijela…
Claro que o Capitão EDUARDO ALARCÃO não embrulhou objecto algum como refere na manhosa entrevista e, muito menos em papel às florinhas multicolores arrematando-o, cuidadosamente, a laçarote de seda cor-de-rosa e tudo... Desminto-o frontalmente! Deixemo-nos de ridículas fantasias… O bibelot em análise é pesadão, atingindo o valor de 9,700 KG e, por isso mesmo, possui uma pega metálica de molde a facilitar o seu transporte e manejo.
Numa tal acção de sabotagem, agarraram a válvula pela pega e, sem mais aquelas, enrolaram o objecto do crime no pedaço de manta da enxerga do amigo TOP e… pronto, lá ficou, aconchegada no quentinho, no interior da casota do cão! Foi assim, tal e qual, que acabámos por topar a magana!
Como já salientámos, o Capitão ALARCÃO não se rendeu em Monsanto! Abalou sem nos passar cartão! E é aqui que bate o ponto! Astucioso e numa tentativa desesperada de “limpar a barra” e salvar a pele, entregou-se, voluntariamente, aos militares do MFA nos Estúdios do Lumiar para onde se tinha dirigido na sua viatura particular.



As Forças Armadas na parada do Centro Emissor de Monsanto. O içar da bandeira.
(29 de Abril de 1974 - Foto de Fausto Castelhano)



É provável que houvesse qualquer entendimento ou negociação (telefónico) entre o Capitão ALARCÃO e os elementos presentes nos Estúdios do Lumiar (militares e funcionários) daí que, se tivesse escapulido, sorrateiramente, do Centro Emissor de Monsanto…
Julgamos que a esforçada diligência do Capitão ALARCÃO (executando um espectacular golpe de rins) aconteceu após a exibição do cartão (escrito à mão) e colocado frente à câmara dos Estúdios do Lumiar e que, em circuito interno, também observámos nos monitores de vídeo em Monsanto (como consta na entrevista). Provocou-nos, isso sim, um sorriso amarelo pelo desplante da recomendação… Era preciso ter uma grande lata! De facto e desde a madrugada, os técnicos do Emissor de Monsanto, encontravam-se sequestrados e tolhidos de qualquer gesto que, mesmo de fugida, levassem a bom termo o objectivo à muito ansiado: colocar a “emissão no ar”.
Relativamente ao Coronel AUGUSTO BAGORRA (Chefe de Serviço de Segurança da RTP), técnicos de “serviço à emissão” (afinal, foram eles a reparar a anomalia provocada pela sabotagem do emissor já que, é bom que se saiba, os equipamentos não se auto-regeneram quando avariam! Requerem, massa cinzenta, experiência, destreza de mãos), soldados da GNR e contínuo/vigilante, CARLOS VAZ MARQUES não dá um pio! Pois é, simples detalhes, porém estabelecem toda a diferença… Abismal diferença, já se vê!
E, já agora um reparo com toda o a propósito. Bem sei que CARLOS VAZ MARQUES não conheceu o TOP e nem sequer se preocupou em indagar o seu nome daí que, não lhe reconhecermos a mínima autoridade neste domínio, ou seja, nas avulsas e despropositadas apreciações que emitiu a esse respeito, lançando anátemas e emporcalhando a memória do nosso grande e dedicado companheiro TOP. Apontou no alvo errado e primou pela graçola chocarreira, roçando o insulto…
Terá que escarafunchar onde melhor lhe aprouver, não ali! E terá muito, muito por onde se entreter se tiver arcaboiço e coragem, como jornalista ou investigador, p’ra trazer a lume os indefectíveis da camarilha bolorenta apeada do poder pela força das armas do MFA e com o apoio entusiástico do povo no dia 25 de Abril de 1974 mas que, mercê das enormes contradições operadas na história recente do país, voltaram… e andam por aí a pavonear-se com o maior à vontade e descaramento… (17)



Aliança POVO-MFA. Moças que visitavam o Centro Emissor de Monsanto confraternizam com os militares.
(29 de Abril de 1974 – Foto de Fausto Castelhano)



TOP, jamais seria um cão do regime e nem a comunidade monsantina o aceitaria no seu seio se, por mero acaso, pressentisse uma tão perversa tendência... Ao invés, pelo seu apuradíssimo faro detectava, à légua, todos quantos se encostavam ao odioso regime e, aí sim, o sangue fervia-lhe nas artérias, agitava-se e atacava com toda a gana do seu ser e, se os “eleitos” não eram socorridos a toda a pressa, TOP estraçalhava-os…
Entretanto, com o emissor a funcionar em pleno desde as 17:54 horas, a programação dos Estúdios do Lumiar foi, imediatamente, injectada no sistema de interligação dos Feixes Hertzianos e Emissores (e, consequentemente, nos Retransmissores) na totalidade do território nacional.
Às 18:40 horas, a RTP interrompe a sua emissão, até aí preenchida por programas recreativos (entre eles, um musical com Vinicius de Moraes) e, pela voz do locutor FERNANDO BALSINHA, anuncia que o MFA prepara uma edição especial do Telejornal… Logo a seguir, FIALHO GOUVEIA lê uma declaração do Movimento das Forças Armadas.



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A 27 de Abril de 1974, os elementos da “Equipa de Serviço à Emissão” no Centro Emissor de Monsanto no dia 25 de Abril de 1974 foram alvo de uma convocatória dos Estúdios do Lumiar… Apenas dois dedos de conversa com três jovens oficiais da Comissão Provisória do MFA (presidida pelo Capitão Teófilo Bento) que orientava os destinos da RTP. Expusemos os acontecimentos sucedidos no complexo do Centro Emissor de Monsanto… Perguntas, dúvidas e a conversinha começou a dar p´ró torto e… azedou! Então, rematámos forte e enviesado: “nós cumprimos desde o primeiro momento, mas alguém falhou nesta encomenda”! Estávamos ali a mais! Demos meia volta e viemos embora…
Regressei a casa quatro dias depois! Estoirado, mas feliz… O primeiro embate terminara… Outros se aprontavam na linha do horizonte…



O Pós-25 de Abril no Centro Emissor de Monsanto


Tal como a população de todo o território nacional, os trabalhadores do Centro Emissor de Monsanto não fugiram à regra e, nesse sentido, também tomaram as suas opções políticas. Todavia, a camaradagem, a amizade e a boa convivência nunca foram postas em causa.



Fausto Castelhano dá as boas-vindas na chegada de Carlos Maciel com a mala dos petrodólares.
(Centro Emissor de Monsanto - Setembro de 1982 - Foto de Fausto Castelhano)




Francisco Madeira Gomes transporta, no carrinho de mão, a mala dos petrodólares. Carlos Maciel apresentou-se ao serviço com esta magnífica indumentária, cumprindo o seu horário normal de trabalho.
(Centro Emissor de Monsanto - Setembro de 1982 – Foto de Fausto Castelhano)



A “Equipa de Serviço à Emissão” no dia 17 de Maio de 1992 junto a um bastidor de comutação dos Feixes Hertzianos (Fausto Castelhano (Emissores) e no 2º plano: Francisco Madeira (Emissores) Gomes, Alcides Gaspar e Paulo Grencho (ambos dos feixes Hertzianos).
(Foto de Fausto Castelhano)



Almoço de confraternização dos Reformados, Pré-Reformados e familiares num Restaurante na Malveira.
(15 de Janeiro de 2000 – Foto de Fausto Castelhano)



O advento do 25 de Novembro de 1975 cavou fissuras, levantou questiúnculas e mal-entendidos no seio do colectivo monsantino que ensombraram o relacionamento interpessoal... Época traumática que deixou sequelas. Algumas, atenuadas com o decorrer do tempo outras, perduraram até aos dias de hoje. Contudo e no fundamental, o companheirismo tem sido a norma…




O 1º de Maio de 1974 no Centro Emissor de Monsanto da RTP


Como referimos num Capítulo 2 e ao facto da especificidade do tipo de Horário de Trabalho, não tivemos a oportunidade de tomar parte no imenso e patriótico cortejo comemorativo do 1º de Maio na cidade de Lisboa.



Manifestação patriótica do 1º de Maio de 1974 nas ruas de Lisboa.
(Foto Wikipédia)



A entrada da “Manif” de apoio aos técnicos do Centro Emissor de Monsanto da RTP organizada pelos colegas dos Estúdios do Lumiar.
(1 de Maio de 1974 - Foto de Fausto Castelhano)



“Manif” de apoio aos técnicos do Centro Emissor de Monsanto da RTP organizada pelos colegas dos Estúdios do Lumiar.
(1 de Maio de 1974 - Foto de Fausto Castelhano)



Em compensação, e logo pela manhãzinha desse dia memorável, tivemos a grata surpresa de uma visita organizada pelos colegas dos Estúdios do Lumiar… Uma ruidosa manifestação “invadiu” o Centro Emissor de Monsanto saudando o pessoal de serviço… Foi um momento de grande emoção que muito nos sensibilizou…



A Comissão de Trabalhadores (provisória) do Centro Emissor de Monsanto da RTP


A Comissão de Trabalhadores (provisória) do Centro Emissor de Monsanto foi eleita, por voto secreto, nos primeiros dias de Maio de 1974 à qual, tive a honra e o grato prazer de pertencer. Durante a sua vigência, até ao dia de 25 de Novembro de 1975, desenvolveu uma notável actividade.

Principais medidas:
Reuniões semanais, às quartas-feiras, com início às das 09.00 horas em ponto. A força militar que, entretanto, ocupara com armas e bagagens o Centro Emissor de Monsanto (desde a noite de 25 de Abril de 1974) fazia-se representar por um dos seus elementos.
Votações de braço no ar: Obrigatório.



“Um dia de salário para a nação” a 6 de Outubro de 1974 proposto pelo Primeiro-Ministro, VASCO GONÇALVES e sendo o Major COSTA MARTINS, Ministro do Trabalho. Um domingo é transformado em dia útil de trabalho oferecido gratuitamente pelos trabalhadores ao país. A adesão é significativa e o resultado financeiro desta campanha será dias mais tarde estimado pelas entidades oficiais competentes em cerca de 13.000 contos.
A “Batalha da Produção” no Centro Emissor de Monsanto foi um êxito!
(Foto de Fausto Castelhano)



O Chefe de Divisão de Emissão, Engenheiro NUNES MARQUES (o “Bostas”) foi afastado (por votação maioritária da Assembleia de Trabalhadores) e transferido para a Sede da RTP. Os técnicos consideraram que a sua permanência no Centro Emissor de Monsanto se tornava perniciosa ao bom funcionamento do sector.
Quanto aos chefes dos Departamento de Emissão/Zona Sul, engenheiro/técnico ARMANDO DOS SANTOS RAÍNHA, (o “Carapinha) e Departamento de Feixes Hertzianos, engenheiro/técnico ARMANDO NUNES CAVACO (o “Borbulha”), os trabalhadores optaram pelo benefício da dúvida e ficaram… Até posterior análise.
Apresentado um extenso e bem fundamentado caderno reivindicativo, à Comissão Militar do MFA (onde estavam representados os 3 ramos das Forças Armadas) que, entretanto, substituíra (provisoriamente) a Administração da RTP. (fui o porta-voz do Departamento Técnico Emissores e Feixes Hertzianos de todo o país) e, do Sector Administrativo, foi eleito o colega Jerónimo Candeias (Emissor de Monsanto).
Foram revistos horários considerados desadequados e reconstituídas equipas nos sectores dos Emissores, Retransmissores e Feixes Hertzianos.
Criados Comités de Vigilância e de Defesa do Centro Emissor de Monsanto (escalas rotativas) em estreita colaboração com as Forças Militares ocupantes.
Quanto às refeições, os trabalhadores escolheriam o restaurante que entendessem e que melhor os pudessem satisfazer.
Foi proposto o aproveitamento dos espaços não ajardinados que circundavam o edifício do Centro Emissor de Monsanto no sentido de incentivar a produção, essencialmente, hortícola.



A Reforma Agrária no Centro Emissor de Monsanto da RTP


Nesta matéria, o Centro Emissor de Monsanto antecipou-se, por largos meses, à Reforma Agrária implementada nos campos do Alentejo e Ribatejo.



A Reforma Agrária. A solidariedade da cidade ao proletariado agrícola na Cooperativa 1º de Maio, na Gâmbia, Setúbal.
(Verão de 1975 - Foto de Fausto Castelhano)



“A terra a quem a trabalha”. A Reforma Agrária nos latifúndios do Alentejo e Ribatejo, a gesta heróica do proletariado rural das gentes do Sul. Em Benavila - Aviz.
(Outubro de 1975 - Foto de Fausto Castelhano)



A utilização dos espaços envolventes do edifício foi total: alface, fava e couve portuguesa, couve lombarda e galega, tomate e feijão de trepar, batata. Assim, nesta actividade extra, dois colegas merecem destaque especial: LUÍS ANTÓNIO DE SOUSA PEREIRA (produtos hortícolas) e ANTÓNIO ALBUQUERQUE no amplo cultivo de batata e do qual, retirou chorudo proveito.



A Cooperativa de Criação de Coelhos no Centro Emissor de Monsanto da RTP


A 10 de Maio de 1974, foi constituída uma cooperativa dedicada à produção de coelhos e elaborado o respectivo regulamento. Nem todos os colegas alinharam no inovador projecto, mas os cooperantes obtiveram um excelente benefício da feliz iniciativa. Dez fêmeas (a parir de 3 em 3 meses) e um formidável, possante e insaciável coelho de cobrição. Olhos avermelhados, pelugem branquinha como a neve, oferta especial do colega CARLOS AUGUSTO AMOR MACIEL…
Produção em alta escala… Salas de partos, de desmame e de engorda. Infalível: às sextas-feiras, após o almoço, as colegas dos Serviços Auxiliares (D. MARINA, D. LEOCÁDIA, D. BENILDE e D. ROSA CARAPITO) encarregavam-se do delicado assunto. Gente determinada, de mão cheia… O fiel da balança determinava o destino dos simpáticos animais. Assim, a bitola de 1Kg marcava toda a diferença e… já não escapavam… Pancada seca e certeira na nuca e… já era! A cabeça separava-se da coluna vertebral e a morte sobrevinha, súbita e o mínimo de sofrimento, além de terrivelmente eficaz… Exigência levada muito a sério e cumprida à risca! A plateia, sempre muito bem composta assistia, interessada, ao singular espectáculo e ao desenrolar das diversas fases da exigente função emitindo, claro está, elogiosos comentários à excepcional eficiência das colegas em tão reputadíssimo desempenho!



Regulamento da Cooperativa de Criação de Coelhos no Centro Emissor de Monsanto da RTP.
(10 de Maio de 1974 - Documento de Fausto Castelhano)



Esfolados “a capricho”, abertos de alto a baixo e limpos de vísceras, os cooperantes jamais se sentiram defraudados… Material de qualidade extra e o preço… apenas simbólico… Meus amigos, nunca se comeu tanta e saborosa carninha de coelho por aquelas bandas! Às centenas… e confeccionados de todas as maneiras e feitios…
Pela alva do dia 26 de Novembro de 1975, incitados por infame delação d’um colega de trabalho, assoprada aos pavilhões auriculares dos “Comandos” que “conquistaram”, na véspera, o Centro Emissor de Monsanto: “Ouçam! As coelheiras são um disfarce muito bem engendrado. Vão lá, é um esconderijo de armamento”
Bastou! Foi o acender do rastilho!
Atacaram em passo de guerra aberta! Após a violação, a golpes de baioneta e vasculharem os armários pessoais dos trabalhadores, os “Comandos” desembestaram como loucos e, armados de baraço e cutelo, amandaram-se aos impecáveis aposentos dos simpáticos orelhudos. Foi o fim!
Caíram como um raio sobre as coelheiras! Possessos de tanta brutalidade e selvajaria, profanaram a intimidade sagrada dos roedores e reviraram tudo do avesso, partiram e escavacaram quanto viram e as dezenas dos bonitos e indefesos animais, atordoados e de olhinhos esgazeados pelo execrável desvario, desencabrestaram “na gáspia”, rasparam-se portão fora ou amarinharam pelos muros da vedação e embrenharam-se, desaustinados, na mata do Parque Florestal de Monsanto… Armas e munições, nem o cheiro!



O Centro Emissor de Monsanto camuflado na mata do Parque Florestal de Monsanto… Foi para lá que os nossos orelhudos se escapuliram “na gáspia”.
(Foto Wikipédia)



Meus ricos coelhinhos! Nunca mais conseguimos assentar os “farolins” em cima do pêlo dos nossos fofos animaizinhos! Todavia, os seus descendentes, até aposto, de certezinha absoluta, ainda devem saltitar por lá…



Os cravos vermelhos já murcharam, à muito, muito tempo… Aguentaram-se, viçosos, precisamente, dezoito meses… Mas valeu a pena!



O meu 25 de Abril termina aqui. Face à gravação publicada, eivada de bastas incorrecções e lacunas no que se refere às peripécias ocorridas no Centro Emissor de Monsanto, penso que o objectivo foi amplamente conseguido isto é, repor a verdade histórica. Certamente, para muitos dos nossos amigos, tendo como pano de fundo o Emissor de Monsanto na nossa Freguesia de Benfica, estes episódios que nos marcaram indelevelmente e dos quais fui testemunha e participante activo serão, em absoluto, uma novidade! Não obstante, continuo a debater-me com uma suspeita incontornável… Uma dúvida baila-me, constantemente, nos escaninhos mais profundos do meu cérebro: será que o facto do Emissor de Monsanto não ter sido ocupado pelo MFA na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, se deveu, apenas, a um mero e imperdoável esquecimento?




NOTAS


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A ocupação da RTP pelo MFA


"Obtido o sucesso da operação militar "MÓNACO", e cumprida a missão, estabelecida na Ordem de Operações do "MFA", da EPAM, havia que dar continuidade à missão deduzida, de forma a assegurar os seus fins últimos, ou seja disponibilizar a emissão de TV para todo o país ao serviço do "MFA". Tal, deveria acontecer, no mínimo, a partir das 12:OO horas (hora habitual do início das emissões de TV) do dia 25 Abril 1974. Conseguidos os meios técnicos mínimos e pressupondo-se o sucesso das operações militares concorrentes de ocupação das antenas de Monsanto e da Lousã, bem como dos estúdios do Monte da Virgem (Porto), importava atingir a segunda parte do objectivo "MÓNACO", isto é, colocar a "mira" no ar de 25Abr74 e iniciar a emissão de TV ao serviço do "MFA". Tal, só veio a ser, efectivamente, conseguido cerca das 19:00 horas, fundamentalmente, por falta de controlo das antenas de Monsanto que, contrariamente às informações prestadas e confirmadas pelo Posto de Comando, não se encontravam dominadas por forças amigas”.

(in “Alvorada em Abril”, de OTELO SARAIVA DE CARVALHO)



Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 17:30 horas

"O Movimento das Forças Armadas tem ocupados os estúdios da RTP em Lisboa e no Porto, embora no Centro Emissor de Monsanto se registe uma interferência provocada por forças da reacção que, a todo o momento, serão dominadas.
Logo de seguida, a Radiotelevisão Portuguesa entrará ao serviço do Movimento das Forças Armadas e do País, noticiando os seus comunicados."



(15)

Engenheiro Matos Correia


O engenheiro MATOS CORREIA (Nota Nº10 - Capítulo 3) foi saneado da RTP à semelhança de muitos outros funcionários da Empresa que, de algum modo, tinham fortes ligações com o regime deposto ou às suas organizações (MOCIDADE PORTUGUESA, LEGIÂO PORTUGUESA, FAC (Frente Anti-comunista), PIDE-DGS (Agentes, Informadores e outros que tais), BRIGADA NAVAL, etc.
A área da Informação (jornalistas, apresentadores, colaboradores) foi, particularmente, atingida (JOÃO COITO, MANOEL CAETANO, HENRIQUE MENDES, MANUEL MÚRIAS, etc.



(16)

Pudera!


O Capitão EDUARDO ALARCÃO sabia o terreno que pisava. Estava a pau com a escrita e das proezas do nosso amigalhaço de todas as horas. EDUARDO ALARCÃO foi um felizardo bafejado pela sorte… Safou-se “à tira” numa das mais espectaculares “perfomances” (de que há memória) do bom amigo e companheiro TOP.



CANITO (sucessor do TOP), inteligente e amigo dedicado. Em bravura, nunca atingiu o nível do incomparável TOP.
(Centro Emissor de Monsanto. Junho de 1986 – Foto de Fausto Castelhano)



TAR (TARZAN) Ainda cachorrinho, tornou-se um cão formidável.
(Setembro de 1988. Centro Emissor de Monsanto - Foto de Fausto Castelhano)



TAR (TARZAN) na parada do Centro Emissor de Monsanto.
(Abril de 1989 – Foto de Fausto Castelhano)




Nesse dia, digno de registo nos anais do Centro Emissor de Monsanto, rosnou ameaçador e arreganhou a temível cremalheira. Concentrou o máximo de energia no corpo fremente e investiu como toiro bravo após um par de bandarilhas no cachaço! EDUARDO ALARCÃO, logo que abriu a porta do carro, numas das frequentes visitas ao Centro Emissor de Monsanto, só lhe restou tempo de se escapulir pela porta do “pendura”. TOP tomou-lhe a viatura de assalto e… ficou lá dentro, trancado! O inteligente e audaz animal, era mesmo assim… Genial! Senhor de faro aprimorado, possuía o condão infalível de pressentir o inimigo a considerável distância…A tabuleta de alumínio afixada no portão de entrada com a esfinge gravada em baixo relevo da cabeça do TOP (e que se manteve durante largos anos, mesmo depois da sua morte) e o aviso: “CUIDADO COM O TOP”, não era bluff!



(17)

Não resisti em transcrever este texto recentemente publicado!


"Assim se chamam as coisas, pelos nomes que elas são!
O FERNANDO SAMUEL, DO “CRAVO DE ABRIL” (a quem dedico este texto), publicou um post onde explica com clareza porque é que os média dominantes não perdem uma ocasião que seja para colocar Salazar «na moda». Ora é a data do seu nascimento, ora a da queda da cadeira, ou da morte... datas sempre assinaladas com textos que servem para branquear, até no nome, o regime fascista que este povo teve que suportar durante 48 anos.




Cá estão eles! Salazar, Carmona, etc. na saudação fascista…



Pensado naqueles que nos acusam de nunca apresentarmos propostas, eis a minha proposta: Que os média dominantes falem de Salazar em cada dia que passe sobre a morte de uma das suas vítimas, às mãos da PIDE na rua, nos campos, ou nas prisões do regime fascista; de cada sessão de tortura de trabalhadores, ou estudantes, ou intelectuais presos; de cada interrogatório violento feito a cada mulher operária ou camponesa; de cada entrada na “frigideira” do Tarrafal de mais um patriota resistente; de cada jovem, português ou africano, morto na Guerra Colonial; de cada criador tolhido pela censura e pelo obscurantismo. Pensado naqueles que nos acusam de nunca apresentarmos propostas, eis a minha proposta: Que nesses dias, que assim serão mais que todos os dias do ano, os média dominantes digam sobre Salazar aquilo que realmente deve ser dito sobre o ditador para assinalar essas datas... pois como disse o poeta,

«Há que dizer-se das coisas

O somenos que elas são.

Se for um prato, é um prato,

Se for um cão é um cão...»


(in “CANTINGUEIRO”)"




(18)

O 28 de Setembro de 1974


Após o imperdoável “esquecimento” no dia 25 de Abril de 1974, os militares do MFA constataram que o Centro Emissor de Monsanto perfilava-se, em grande estilo, como alvo apetecível sob todos os aspectos e ponto fulcral no controlo das emissões de televisão… De uma vez por todas, ficou-lhes de emenda! A partir daí, o Centro Emissor de Monsanto jamais deixou de estar ocupado pelas Forças Armadas de diversos aquartelamentos com as quais, mantivemos um fraternal relacionamento. Porém, logo que eclodia um qualquer berbicacho, outras forças militares tentavam, a fio de espada, agadanhar o Centro Emissor.



O Centro Emissor de Monsanto ocupado pelas Forças Armadas. O TOP na parada e, à esquerda, técnicos e uma das moças que nos visitavam. No terraço (onde no 28 de Setembro de 1974 seria montada uma peça de artilharia) os militares vigiam.
(29 de Abril de 1974 - Foto de Fausto Castelhano)



Assim, a meio da manhã do dia 28 de Setembro 1974, apesar da protecção dos militares do GDACI, o Centro Emissor de Monsanto foi atacado por uma força da GNR que invadiu a Sala dos Emissores com a missão expressa de rebentar a “antena”. Munidos de um corta-cabos, foram os técnicos que os aconselharam a que não agissem de modo tão tacanho, pois a destruição do equipamento seria um completo disparate. Garantimos que, se fosse necessário, apenas desligaríamos a energia eléctrica para o próprio emissor. Aceitaram o alvitre e, da nossa parte, cumprimos o prometido… Com efeito, o emissor da RTP1 permaneceu intacto sem sofrer uma beliscadura. Mais tarde, cerca das 11:00 horas, uma coluna de militares do RIOQ comandada pelo Capitão ROQUE, entrou nas instalações do Centro Emissor de Monsanto e obrigou à retirada da força da GNR que ali permanecia.


GDACI- Relato da sua actuação em 28 de Setembro de 1974

“Cerca das 04:00 horas de 28 de Setembro, enquanto decorria na Messe de Monsanto uma reunião de oficiais de diferentes ramos das Forças Armadas, interrompe-a de súbito um oficial da Unidade informando, alarmado da presença de um esquadrão da GNR, armado (cerca de 150 elementos, comandados pelo Capitão ANDRADE E SOUSA, devidamente enquadrados por subalternos, deslocando-se em viaturas Land-Rover), diante dos portões da Unidade. Munido de um ridículo corta-arames, o capitão da GNR preparava-se para destruir a antena da RTP quando o Capitão SOBRAL COSTA acompanhado de um oficial miliciano (ROQUE) o interpela. Responde, então, o CMDT da força da GNR que tem ordens pessoais do CMDT Geral da GNR, General DAMIÂO, para o cumprimento de tal missão. E que a ordem provinha do próprio SPÍNOLA.”

(in 'Ascensão, apogeu e queda do MFA' – Volume I – Dinis de Almeida - Pág. 198, 199, 200).



A criançada e os militares do MFA em Belém.
(Verão de 1975 - Foto de Fausto Castelhano)



(18)

O 11 de Março de 1975


A ameaça bruta chegou ali e parou… Blindados da GNR esbarraram na entrada (danificando o portão) no intuito descarado de invadir o Centro Emissor de Monsanto enquanto os aviões FIAT sobrevoavam a cidade de Lisboa em manobras de intimidação… Corria o boato de que o Centro Emissor de Monsanto e as áreas limítrofes iriam ser bombardeadas… Alertados da tentativa de golpe militar em curso, os militares do RIOQ e alguns de nós, posicionaram-se no terraço do edifício e apontaram a peça de artilharia (montada desde o 28 de Setembro de 1974) na direcção dos intrusos, pronta a vomitar metralha…A ordem de abrir fogo partiu dum jovem Alferes e, não fora uma contra-ordem do Major do RIOQ, comandante da força de protecção do Centro Emissor de Monsanto e que tentava dialogar com a força invasora, estou em crer que teria acontecido uma desgraça… Mas, foi remédio santo! A GNR e os seus blindados, desistiram de forçar o assalto… Enfim, o bendito sossego naquele local de trabalho, tão escondidinho, ar puro do Parque Florestal, o chilrear da passarada no denso arvoredo e os soberbos panoramas, era uma miragem… Uma constante imperava: sempre com o credo na boca!

“Passara pouco depois das 15:00 horas quando junto dos portões do GDACI, apareceu uma força de blindados SHORTLAND, com efectivos da GNR com a missão de entregar uma mensagem no Comando da 1ª Região Aérea. Impedidos de entrar, além de mandados retirar pelo Capitão SOBRAL COSTA, foi face à hesitação dos primeiros, que este último decidiu dar ordens de forma ostensiva ao 1º Sargento MENDONÇA para “preparar os morteiros”. (que não existiam na unidade). Perante o risco que supunha evidente, a força da GNR evidencia um tal estado de pânico, que se chegaram a verificar colisões entre os blindados. A chegada duma força amiga do RIOQ mais contribuiria para reforçar a auto confiança de que haviam dado provas. Pouco depois estavam montadas as posições de defesa da zona onde se encontravam as disputadas antenas da RTP e FM das estações emissoras”.

(in 'Ascensão, apogeu e queda do MFA' – volume I - Dinis de Almeida - Pág. 337).



As crianças à boleia nos “chaimites” das militares do MFA, em Belém.
(Verão de 1975 - Foto de Fausto Castelhano)



Documento nº 11 – Extracto do Relatório preliminar - GNR

“Às 13:30 horas, uma força da GNR constituída por 5 moto-blindados aparece nas imediações do GDACI, tentando desligar a antena da RTP em Monsanto. Foram interpelados por forças do COPCOM e intimados a retirar o que fizeram imediatamente.”

(in 'Ascensão, apogeu e queda do MFA' – volume I - Dinis de Almeida - Pág. 409).


Documento nº 18 – Extracto do Relatório preliminar - GNR

“Às 14:25 horas sai do mesmo quartel outro pelotão de moto-blindados com a missão de ocupar e desligar a antena da RTP em Monsanto. Tendo encontrado o local ocupado por forças do COPCOM que lhe impediram a entrada, o pelotão regressou ao quartel onde entrou cerca das 14:45 horas. O comandante deste pelotão levava uma mensagem destinada a ser transmitida pelo comando da 1ªregião Aérea, em Monsanto, para Tancos, em que se pedia uma acção aérea na zona da antena da RTP.”

(in 'Ascensão, apogeu e queda do MFA' – volume I - Dinis de Almeida - Pág. 418).



(19)

O 25 de Novembro de 1975 no Centro Emissor de Monsanto e as suas consequências…


O 25 de Novembro revelou-se uma data marcante e que jamais esquecerei até ao final dos meus dias... O Centro Emissor de Monsanto fora ocupado a 24 de Novembro de 1975 pelo Regimento de Paraquedistas da Base de Tancos… A sua rendição ocorreu ao cair da tarde do dia 25 de Novembro quando uma força militar constituída por 25 “Chaimites” dos Comandos da Amadora, fortemente armados e dispostos a tudo, cercaram as instalações do Centro Emissor de Monsanto e a área adjacente (Comando da 1ª Região Aérea e GDACI) em plena Estrada da Belavista…
A intimação soou pelo megafone, determinada e agressiva: “Têm 15 minutos! Larguem as armas e rendam-se”… Sem hipóteses de qualquer resistência, os “páras” (comandados por Sargentos) depuseram o armamento e, depois nos abraçarem um a um e terem a garantia, que cumprimos (da parte dos técnicos de serviço: FAUSTO CASTELHANO, FRANQUELIM RIBEIRO e GABRIEL CARDOSO) de que a “sua” emissão não seria interrompida, renderam-se… Sob o meu ponto de vista, o 25 de Abril foi “estrangulado”, ali mesmo… na Serra de Monsanto!



Na tarde de 25 de Novembro de 1975, a força militar dos “Comandos” da Amadora cercaram o Centro Emissor de Monsanto e área adjacente (comando da 1ª Região Aérea e GDACI) em plena Estrada da Belavista. O 25 de Abril foi “estrangulado”, ali mesmo…
(Foto Wikipedia)



Então, dezenas de “comandos” invadiram o recinto, espalharam-se por todo o lado como infalíveis conquistadores e entraram de roldão na Sala do Emissor… Encostaram os técnicos à parede e apontaram-lhes as G3 ao peito… Assim, naquelas dramáticas condições, ordenaram que os sinais de televisão dos Estúdios do Lumiar (onde intervinha o Capitão DURAN CLEMENTE) fossem imediatamente “cortados” e substituídos pela programação que, ao longo da cadeia de Feixes Hertzianos, continuava a ser emitida a partir dos Estúdios do Porto…



Desmontagem da torre metálica da RTP, um ex-libris da Serra de Monsanto.
(
18 de Dezembro de 1995 – Foto de Fausto Castelhano)



De Norte a Sul do país, Monsanto foi o único emissor que tomou uma postura firme e, ao mesmo tempo, arriscada… Porém, como técnicos responsáveis, considero que enveredámos pelo caminho que nos pareceu mais correcto: o circuito normal das emissões de televisão encontrava-se devidamente especificado, isto é, os sinais televisivos têm a sua origem, sempre, nos Estúdios de Lisboa… Os sinais de vídeo e áudio de qualquer outra procedência, para nós, seriam reputados de ilegítimos.
Ao longo desse dia, de pouco valeram as intimações telefónicas dos altos responsáveis da RTP (instalados no Palácio de Belém (Eng. NUNES MARQUES e outros) no sentido de procedermos ao “corte da emissão” e injectar, no Emissor de Monsanto, os sinais de televisão provenientes dos Estúdios do Porto (Monte da Virgem).
Logicamente, a resposta não podia ser outra: “Enquanto esta força militar (Paraquedistas) aqui permanecer, os emissores estarão sob a sua tutela… Quando o Centro Emissor de Monsanto for ocupado pela Marinha, Força Aérea ou Exército, logo se vê mas…mesmo assim, se pretenderem alterar a actual situação, venham cá acima, tragam o Presidente da República ao Emissor, e tomem essa responsabilidade…Pelo telefone, já não recebo ordens seja de quem for”… Foi assim, está lá, no relatório relativo à RTP no 25 de Novembro de 1975…



Pormenor da desmontagem da torre metálica do Emissor de Monsanto. O palito (painéis de emissão de UHF do 2º Programa) já lá vai…
(18 de Dezembro de 1995 – Foto de Fausto Castelhano)



A nível da Polícia Judiciária Militar, instauraram um processo disciplinar que englobou os Órgãos da Comunicação Social. Fomos interrogados por oficiais das Forças Armadas na sede da RTP, Rua de S. Domingos, à Lapa nº26…
No rescaldo do 25 de Novembro de 1975, vários colegas dos Estúdios do Lumiar foram suspensos e um colega do Centro Emissor de Monsanto (dirigente sindical) esteve preso na cadeia de Custóias vários meses… Foram todos despedidos! A demanda, a nível judicial, arrastou-se por uma “porradaria” de anos e a RTP, contestou e recorreu, sempre, das sentenças desfavoráveis dos tribunais das várias instância por onde o processo vagueou… Chegou ao Supremo Tribunal e o colectivo de juízes, mais uma vez, condenaram a RTP alegando, e bem, que o caso se resumia a um simples “despedimento por motivos políticos”.
Meus amigos, tomem nota! O nosso colega regressou, ao Emissor de Monsanto, onze anos depois… Recebeu o “carcanhol” a que tinha direito acrescido de juros de mora e, ainda, um saco a abarrotar com as senhas de refeição correspondentes aos anos de afastamento do seu local de trabalho… Um balúrdio…



O topo da nova torre do Centro Emissor de Monsanto da PT - Portugal Telecom.
(Julho de 1993 – Foto de Fausto Castelhano)



Pessoalmente, paguei com “língua de palmo” a ousadia de me borrifar nos insistentes rogos das entidades superiores da RTP e não só… Porém, fiquei de consciência tranquila e hoje, voltaria a agir, exactamente, no mesmo estilo. A administração da RTP não me afastou das minhas funções, mas fui sendo preterido na carreira profissional ao longo de 19 anos…Durante esse longo espaço de tempo, foram encetadas várias diligências com a finalidade de ultrapassar o diferendo… Nada se alterou…
Em 8 de Abril de 1991 e por disposto no Decreto-Lei nº 138/91, foi criada a TDP-Teledifusora de Portugal, S.A. O valioso património da RTP, ou seja, a totalidade dos edifícios, os equipamentos e os técnicos de electrónica da cadeia de Emissores e Feixes Hertzianos (Fixos) entraram, direitinhos, tal como num passo de mágica, no bornal da novel empresa… Uma autêntica golpada… A RTP estampou-se em cheio… Espoliada, indecentemente, ficou “sem cheta” após tão incrível esbulho…



Proposta de promoção à Administração da TDP a pedido dos colegas de trabalho do Centro Emissor de Monsanto.
(24 de Dezembro de 1993 - Documento de Fausto Castelhano)



A 24 de Dezembro de 1993, os técnicos do Centro Emissor de Monsanto assinaram e enviaram uma petição à Administração da TDP-Teledifusora de Portugal S.A., ao abrigo do nº 3 da cláusula 27ª do Acordo de Empresa propondo a regularização da minha carreira profissional… Nem assim…
Em 23 de Junho de 1994, a TDP-Teledifusora de Portugal S.A. desaparece do mapa e é agregada, conjuntamente com a Telecom de Portugal, os TLP e a Marconi, numa nova empresa, a PT-Portugal Telecom… As tais manobras de alto cambalacho…



Petição assinada pelos técnicos do Centro Emissor de Monsanto.
(24 de Dezembro de 1993 - Documento de Fausto Castelhano)



Finalmente, em 18 de Dezembro de 1994, a minha carreira profissional foi revista. A Administração da PT-Portugal Telecom integrou-me (juntamente com um reduzido grupo de técnicos do Departamento de Emissores e dos Feixes Hertzianos (Fixos), num patamar superior dos quadros da empresa… Foi assim!... Penei, pacientemente, dezanove anos…



As movimentações militares na Serra de Monsanto no dia 25 de Novembro de 1975

"Às 07:00 horas, uma força de 65 pára-quedistas comandada pelo sargento MANUEL REBOCHO ocupa o Grupo de Detecção Alerta e Conduta de Intercepção (GDACI), em Monsanto.
Às 16:30 horas, o Regimento de Comandos desencadeia ofensivas em direcção em direcção à Base de Monsanto, ao RALIS, EPAM e Regimento de Artilharia de Costa (Oeiras).
Às 19:15 horas, as tropas paraquedistas que ocupam a Base de Monsanto, GDACI e Comando da 1ª Região Aérea, rendem-se sem qualquer resistência.
Às 19h30, o capitão FRANCISCO FARIA PAULINO é preso em Monsanto conjuntamente com mais 30 militares.
Às 21:10 horas, quando o capitão MANUEL DURAN CLEMENTE, 2º Comandante da Escola Prática de Administração Militar, falava na televisão a partir dos estúdios do Lumiar, a emissão foi cortada passando a ser assegurada pelos estúdios do Monte da Virgem (Porto)".

(in “Abril de novo” – JOFRE ALVES)



Regimento de Comandos

"…Trajando civilmente, o tenente-coronel TRINDADE, da EP1, entrava e saía inúmeras vezes no Posto-Rádio quando na oficina de reparações do material Rádio (defronte do Posto-Rádio) a intervenção na RTP de DURAN CLEMENTE o põe completamente descontrolado. Não iam muito calmos então, os ares no Regimento de Comandos".

(in 'Ascensão, Apogeu e Queda do MFA' - DINIS DE ALMEIDA - Volume 2 - Pág. 360).



RALIS

“…Eu não digo que tenhamos de tomar a iniciativa de mandar uma Bateria de autobuses a apoiá-los (os paraquedistas), sem ordem do COPCOM, mas podemos pedi-la. Eu próprio me ofereço para tratar disso directamente. Levo, se me autorizar, uma pequena escolta blindada ou então vou mesmo sozinho… aliás, temos de reforçar a segurança à RTP, e as antenas da RTP são mesmo junto ao GDACI, não se esqueça disso, meu comandante”.

(in 'Ascensão, Apogeu e Queda do MFA' - DINIS DE ALMEIDA - Volume 2 - Pág. 369).


“…de qualquer maneira, isto nem me parece uma iniciativa deslocada ou isolada, na medida em que OTELO nos mandou reforçar a segurança às emissoras e as antenas da RTP estão em Monsanto. Se formos para lá protegê-las estaremos suficientemente perto do GDACI para avaliarmos a situação”…

(in 'Ascensão, Apogeu e Queda do MFA' - DINIS DE ALMEIDA - Volume 2 - Pág. 370).


“…Não sabemos de nada, OTELO não nos dá ordens…estamos abandonados… (os paraquedistas) ainda bem que vocês vieram!
Nós viemos para aqui defender apenas a antena da RTP; são as únicas ordens que eu tenho, avisei”…

(in 'Ascensão, Apogeu e Queda do MFA' - DINIS DE ALMEIDA - Volume 2 - Pág. 370).


“…Um telefonema de Monsanto interrompeu de súbito as descontroladas discussões que se processavam no COPCON.
Do outro lado da linha, um sargento da 1ª Região Aérea pedia reforços e explicava que os Comandos haviam cercado Monsanto naquele momento enquanto lhes davam 15 minutos para se renderem”.

(in 'Ascensão, Apogeu e Queda do MFA' - DINIS DE ALMEIDA - Volume 2 - Pág. 371).


“…O major DINIS DE ALMEIDA segue igualmente no “chaimite”. O objectivo é a defesa da antena da RTP de Monsanto, próxima do GDACI e da 1ª Região Aérea”…

(in 'Ascensão, Apogeu e Queda do MFA' - DINIS DE ALMEIDA - Volume 2 - Pág. 379).