quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Quinta da Feiteira (Capítulo II)



Todos os direitos reservados @ Fausto Castelhano, "Retalhos de Bem-Fica" (2011)



Benfica
Uma freguesia do Termo de Lisboa


Capítulo II

A Quinta da Feiteira
- Do fundo dos tempos aos estertores da Monarquia -



(por Fausto Castelhano)

***


Após longa e fabulosa caminhada até aos nossos dias, as origens da mítica Quinta da Feiteira somem-se na fundura dos Tempos… Notas dispersas em publicações antigas e descobertas um pouco ao acaso, apontamentos preciosos insertos no livro “Benfica através dos tempos” do Padre Álvaro Proença ou nas obras publicadas versando a História do Sport Lisboa e Benfica permitiram agarrar todo o espólio disponível sobre tão interessante local da Freguesia de Benfica e traçar, na medida do possível, o quadro do emblemático espaço e a gradual transformação que de que foi objecto no decurso de cerca de três centenas de anos, isto é, onde outrora e até ao segundo decénio do século XX, existiu a famosa Quinta da Feiteira.



Um aspecto da antiga Quinta da Casquilha e, em segundo plano, observa-se o arvoredo do Parque Silva Porto ou Mata de Benfica implantado no espaço da Quinta da Feiteira.
(Foto de Artur Goulart - 1961 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



Claro está que, de permeio, fomos introduzindo valiosas achegas de realíssimo interesse e que nos mereceram particular atenção uma vez que, continuam retidos na memória dos raros amigos de provecta idade que ainda nos restam e que se dispuseram, de bom grado, transmitir-nos algo sobre o assunto, amigos que entretanto e aos poucos, nos vão abandonando mercê da inexorável lei da vida…


Terrenos da antiga Quinta da Casquilha. Ao longe, a torre da igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica. (Foto de Artur Goulart - 1961 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



Comecemos, então, pelo princípio:
Situada no coração da Freguesia de Benfica, a vastíssima superfície da histórica Quinta da Feiteira integrava terras de excelente de aptidão cerealífera e, tirando partido da irrigação proporcionada pela ribeira que atravessava a totalidade da propriedade no sentido Oeste para Leste, a produção hortícola e frutícola tornava-se, na verdade, farta e de irrefutável qualidade…Incluía, ainda, jardins e demais aposentos destinados a criados e trabalhadores, o magnífico palacete, cavalariças e a capela dedicada a S. Gonçalo de Lagos…
A frente principal da Quinta da Feiteira, sensivelmente virada ao Norte geográfico, bordejava a antiga Estrada Real, a actual Estrada de Benfica e estendia-se desde a Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Amparo de Benfica até à embocadura da Estrada de A-da-Maia.



O novo parque desportivo do Clube Futebol Benfica, Campo Francisco Lázaro, implantado na antiga Quinta da Casquilha. Em segundo plano, o arvoredo do Parque Silva Porto, a conhecida Mata de Benfica.
(Foto de Artur Goulart - 1961 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



A Poente, a Quinta da Feiteira encontrava-se limitada, não só pela Estrada de A-da-Maia mas, também, pela Quinta da Casquilha…
Ora, nos finais dos anos 50 do século XX e precisamente na Quinta da Casquilha, seria construída a chamada “zona ocidental” do Bairro de Santa Cruz de Benfica e, logo no início da década de 60 entra, em plena actividade desportiva, o moderno e mais dilatado recinto de jogos do Clube Futebol Benfica o qual, iria herdar o nome do antigo Campo Francisco Lázaro…
Entretanto e chegados aos primórdios dos anos 70, iria arrancar a construção do novo Mercado Municipal de Benfica e, pouco tempo depois, ocorre a sua inauguração e abertura ao público, acto solene e festivo que tem lugar a 19 de Outubro de 1971… Desaparecia, para sempre, envolto numa profunda saudade, o Mercado de levante da Avenida Grão Vasco, a “Rua da Mata”



Terreno reservado da antiga Quinta da Casquilha e destinado à futura construção do Mercado Municipal de Benfica - Em segundo plano, os prédios do lado esquerdo da Rua Emília das Neves.
(Foto de Armando Serôdio - 1969 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



A Nascente, a Quinta da Feiteira confrontava-se, não só com a Estrada da Garridas, via que nos encaminhava, directamente, à “passagem-de-nível” dos Caminhos-de-Ferro da Buraca mas, também, ao muro divisório da chamada Quinta do Caldas o qual, oferecia obstáculo de monta…E será, nos anos 30 do século XX que, no espaço da Quinta do Caldas, seria construído o primeiro campo de jogos do Clube Futebol Benfica, o Campo Francisco Lázaro
A Poente, a Estrada da Circunvalação ou Estrada Militar perfilava-se como fronteira natural da Quinta da Casquilha e será, ao longo da Estrada da Militar até à linha de Caminhos-de-Ferro da CP que, nos finais dos anos 50 vão ser erigidas as moradias em banda e as ruas transversais correspondentes à Rua da Várzea ou seja, na “zona ocidental” do Bairro de Santa Cruz de Benfica…



Inundações na Estrada Militar ou Estrada da Circunvalação junto às moradias da “zona ocidental” do Bairro de Santa Cruz. O conjunto das moradias que se observam na foto e ao correr da Estrada da Circunvalação, correspondem à Rua da Várzea e às respectivas arruamentos transversais.
(Foto de Judah Benoliel - Finais dos anos 50 do século XX - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



A Comissão Municipal de Toponímia, e que nos apraz registar, lança mão das antigas designações dos sítios e lugares e que persistem na memória colectiva da população da Freguesia de Benfica e, então, resolve atribuí-las aos vários arruamentos do Bairro de Santa Cruz de Benfica e, assim, surgem: Rua da Casquilha, Rua do Parque, Rua das Garridas, Rua da Várzea…



Passagem-de-nível da Cruz da Pedra
(Foto de Arnaldo Madureira – 1969 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



A Sul, o caminho ferroviário da CP da Linha de Sintra oferecia uma barreira intransponível desde os finais do século XIX e, apenas as “passagens-de-nível” da Damaia, Cruz da Pedra ou Buraca e esta, já no termo da Estrada das Garridas, permitiam ultrapassar o inusitado estorvo à passagem das populações…



Apeadeiro da Cruz da Pedra/Jardim Zoológico da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses - CP
(Foto Wikipédia)



No que diz respeito à Quinta da Feiteira, a referência mais antiga com que deparámos, remonta a 1702 e foi respigada, além d’outras importantes e raras anotações, precisamente do livro “Benfica através dos Tempos” do Padre Álvaro Proença onde, a expensas de afincada trabalheira e escorado de paciência de santo, embrenhou-se nos misteriosos labirintos do respeitável quanto antiquíssimo Livro d’Almas da paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica e conseguiu desenterrar, trazendo à claridade do dia, a crucial e imprescindível informação que desde sempre almejávamos…
Assim e ao longo de cerca de dois séculos, tanto quanto se apurou de concreto, estabeleceram morada e viveram na Quinta Feiteira, os seguintes cidadãos: no registo do ano de 1702 irrompe, vindo da poeirada do tempo, Francisco João e, apenas em 1755, aparece a anotação de residência de Arcângela Maria e do seu irmão, o padre Pedro da Costa… Em 1769 e fazendo fé nas anotações fidedignas do Livro d’Almas da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, Pedro Lourenço e a respectiva esposa moraram, efectivamente, na Quinta da Feiteira…



Rua do Parque no Bairro de Santa Cruz de Benfica e o arvoredo do Parque Silva Porto, a Mata de Benfica.
(Foto de Arnaldo Madureira - 1970 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



No ano de 1780, Hermano Cremer Vanzeler estabeleceu residência permanente na Quinta da Feiteira. Notabilizou-se pela ilimitada generosidade sendo, na verdade, um ilustre benfeitor da Paróquia de Benfica contribuindo, fortemente, a favor da construção da Igreja Nova, segundo opinião abalizada do Padre Álvaro Proença…



Igreja de Nossa Senhora da Saúde no Calhariz de Benfica.
(Foto de João H. Goulart - 1967 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



No Livro de Horas e no ano de 1782 consta, ainda, como morador fixo na Quinta da Feiteira, o nome do empregado Leandro João …
Entretanto e decorridos 18 anos, ou seja, em 1800, aparece-nos, por fim, a indicação do proprietário da Quinta da Feiteira, Francisco José Pereira e associado a notabilíssima iniciativa que, então, resolveu tomar: a reparação total da velha ermida dedicada a S. Gonçalo de Lagos erguida, desde tempos imemoriais, como capela privativa da própria Quinta da Feiteira…



Núcleo populacional do Calhariz de Benfica onde se localiza a a Capela de Nossa Senhora da Saúde.
(Foto de Fausto Castelhano - 2010)



A talhe de foice, é bom lembrar que, no século XVIII e no extenso território da Freguesia de Benfica, além das duas igrejas paroquiais, a Velha e a Nova, constatava-se a existência de um conjunto de 19 capelas ou ermidas… Três das capelas eram consideradas “Públicas”, isto é, pertenciam ao povo e, como tal, revelavam-se centros de intensa vida religiosa e social sendo, ao mesmo tempo, sedes de Confrarias ou Irmandades relevantes…
Assim, a Capela de Nossa Senhora da Saúde (1) encontrava-se edificada na zona central da comunidade do Calhariz de Benfica; a Capela do Espírito Santo (2), construída no lugar de Benfica e bastante pertinho da Igreja Paroquial e, ainda, a capela de Nossa Senhora da Conceição da Lapa (3), situada na Falagueira, Amadora, ou seja, a antiga Porcalhota e onde, actualmente, continua aberta ao culto…



A Capela de Nossa Senhora da Conceição da Lapa junto ao Aqueduto das Águas Livres na Falagueira, Amadora, ou seja, a antiga Porcalhota.
(Foto de Joshua Benoliel - 1912 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



Para uso próprio e dos seus agregados familiares, servidores, criados, trabalhadores e rendeiros existiam, ainda, 14 oratórios particulares integrados nos belos e ricos palacetes e solares, mansões e palácios pertencentes a famílias abastadas ou fruindo de evidente prestígio…



Caminhos da antiga Quinta da Casquilha junto à antiga “passagem-de-nível” da Buraca da CP.
(Foto de Fausto Castelhano - 2011)



A Quinta da Casquilha, à semelhança doutras propriedades onde predominava a gorda abastança, também estava dotada de capela privativa: a Capela de Santo António todavia, no início do século XIX, já se apresentava totalmente arruinada!



A tradicional Feira da Luz preenchia todo o mês de Setembro, em Carnide.
(Foto Wikipédia)



Acrescentamos, por último, a Capela de Nossa Senhora do Pilar, administrada pelos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e que estava integrada na Quinta da Granja…
Farturinha, louvado seja Deus… O povoléu, jamais teve razões de queixa e participava, vivamente, nas festanças e na vida social e comunitária…
Procissões e romarias, arraiais e festejos carnavalescos, festas de campo, bailaricos ou Semana da Quaresma, bandas de música, onde pontificava a insigne banda da Sociedade Filarmónica Euterpe de Benfica fundada em 1859, as fogueiras dos Santos Populares, terços e novenas, o Mês de Maria, as missas cantadas e os sermões, as penitências… Quarenta dias festivos durante o ano inteiro… Uma loucura, afora as festividades na Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres, no Outeiro ou então, na Ermida de Nossa Senhora da Conceição, na vizinha Damaia, propriedade do Conde da Lousã…
O povinho atestava o bandulho de forrobodó e, quando o mês de Setembro espreitava após as colheitas da lavoura, os foliões entravam, positivamente, em delírio: a centenária Feira da Luz, em Carnide, abria os portões de par em par… O melão de Almeirim e o vinho carrascão do Cartaxo, as sardinhas assadas, as febras de porco na grelha e as louças de barro vermelho faziam as honras aos visitantes no Largo Luz…



O povo enfileirado no intuito de apanhar o autocarro a caminho da Romaria de Nossa Senhora da Conceição da Rocha em Carnaxide.
(Foto de Artur Goulart - anos 60 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



O entusiástico corropio na caminhada pela longa Estrada do Poço do Chão tornava-se avassalador porém, mal rebentavam os alvores da Primavera, o povinho rejubilava e atingia alto grau de êxtase, o clímax, dando o corpinho ao manifesto no mês de Maio, rebolando-se de farra na Romaria em Honra de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, em Carnaxide…



Fila de gente para apanhar o autocarro a caminho das festividades tradicionais em honra de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, em Carnaxide.
(Foto de Artur Goulart – Anos 60 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



Pouco restou dos hábitos e crenças, costumes e tradições ancestrais que tanto entusiasmavam os nossos avoengos dum tempo já tão longínquo…Hoje, a sensaboria e o tédio, prevalecem…
Mas, voltemos ao século XIX e ao ano de 1858 onde nos surgem, como moradores permanentes da Quinta da Feiteira, Fernando Emídio da Silva e D. Edwiges Eugénio da Mota, Manuel Inácio da Mota e Silva e, ainda, cinco criados prontos para todo o serviço...
No ano de 1873, João Henrique Ulrich apresenta-se como dono absoluto da Quinta da Feiteira e com residência fixa comprovada.



Antigos caminhos das Terras das Garridas, os chamados “Caminhos da Feiteira”.
(Foto de Fausto Castelhano - 2011)



Entretanto, chegamos ao dia 10 de Junho de 1880 e, enquanto os “Republicanos” organizam e fazem desfilar um imponente cortejo comemorativo do tricentenário da morte de Luís de Camões, considerado o símbolo da grandeza e imortalidade da Pátria, o actual proprietário da Quinta da Feiteira, João Henrique Ulrich, matutou, matutou e avança com uma ideia genial, iniciativa de profundo alcance e que muito irá beneficiar a população de Benfica: arborizar parte considerável da excelente propriedade a que davam o nome de Feiteira de Cima e ordena, sem demora, o plantio célere de árvores de avantajado porte e arbustos de espécies variadas…
A Quinta da Feiteira embelezou-se de alto a baixo e tornou-se, aos poucos, uma realidade espacial verdadeiramente aprazível… A Sul do centro histórico da comunidade, isto é, em torno da Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, começava a desenhar-se um dos exuberantes pulmões verdes da Freguesia de Benfica!



Cartaz alusivo ao tricentenário da morte de Luíz de Camões. As comemorações decorreram na cidade de Lisboa e foram organizadas pelos Republicanos Portugueses.
(Foto Wikipédia)



Como se sabe, e após várias remodelações, o espaço arborizado seria mais tarde transformado no actual Parque Silva Porto, a conhecida Mata de Benfica, a qual, abrange uma superfície de cerca de 5 hectares de densa vegetação arbórea e arbústica.



O Zé Povinho, a famosa figura criada pelo artista Rafael Bordalo Pinheiro.
(Foto Wikipédia)


A 31 de Agosto de 1891, precisamente na Quinta da Feiteira, ocorre o falecimento de Maria Luíza de Sá Ulrich, esposa de João Henrique Ulrich e, volvidos mais alguns anos, o mesmo sucede ao titular da propriedade. Apenas em Maio de 1903, os herdeiros da ilustre família vendem, a belíssima Quinta da Feiteira, a César Augusto de Figueiredo, um “torna-viagem” brasileiro bem apetrechado de grossos cabedais, certamente abichados nos negócios desenvolvidos em Terras de Santa Cruz que adquire, por atacado, todo o conjunto da Quinta da Feiteira que incluía, boas terras de semeadura e hortas, palácio, bosques e jardins, etc.
[Informação cedida por amável deferência da Srª D. Ana Maria da Cunha]


A Revolta do Grelo, movimento revoltoso da população portuguesa contra o Imposto do Selo, rebenta na cidade de Coimbra no mês de Março de 1903 e alastra a todo o país.
(Foto Wikipédia)



Chegados a 1903, Portugal continua inquieto e agita-se de modo constante: a 24 de Janeiro realiza-se o funeral de Rafael Bordalo Pinheiro, o grande caricaturista republicano e criador da figura do Zé Povinho; em Março rebenta, em Coimbra, a chamada Revolta do Grelo, movimento de indignação popular contra o Imposto do Selo e que passaria a ser exigido às vendedeiras de géneros hortícolas e, também, aos vendedores do Mercado…
A revolta propaga-se de norte a sul do país e a forte contestação à Monarquia resvala e assume contornos violentos; os tecelões do Porto entram em greve geral e esta, vai alastrar de rompante a todo o território nacional envolvendo cerca de 30.000 operários; a 16 de Maio, é inaugurado o Centro Regenerador Liberal de Lisboa, liderado por João Franco o qual, se vai evidenciar e tornar célebre como braço direito do rei D.Carlos I e afastado, imediatamente, após o regicídio no dia 2 de Fevereiro de 1908…



João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco, líder do Centro Regenerador Liberal de Lisboa, fundado a 16 de Maio de 1903.
(Foto Wikipédia)



E na pacatez rural da pitoresca Benfica, César de Figueiredo, homem de inesgotável dinamismo, adquiriu a cantaria e os portões de ferro das velhas Portas de S. Sebastião da Pedreira, os antigos limites da cidade de Lisboa e vai colocá-los no chamado “Passeio da Feiteira”, a actual Avenida Grão Vasco… Assim, calcetada de modo primoroso, a alameda harmoniosamente arborizada e que nos levava da Estrada de Benfica até aos portões da estupenda Quinta da Feiteira ficou ornada, em ambos os lados, graças a um belíssimo murete encimado por vistoso gradeamento de ferro forjado…



João Franco é pontapeado pelo Zé Povinho. Após o Regicídio, ocorrido a 2 de Fevereiro de 1908, João Franco é afastado da vida política portuguesa, definitivamente.
(Foto Wikipédia)



Finalmente, chegamos ao ano de 1906 onde a Quinta da Feiteira inicia uma imparável trajectória e vai projectar-se a caminho de um extraordinário protagonismo que ficará gravado, indelevelmente, na memória das gentes…



[Continua…]


**** Por razões de higiene mental, o autor não respeita as normas do Novo Acordo Ortográfico.





NOTAS


(1)- Capela de Nossa Senhora da Saúde
Calhariz de Benfica



A ermida de Nossa Senhora da Saúde é de construção bastante remota ignorando-se, exactamente, a data da sua edificação, no entanto, a pequena igreja que hoje se encontra localizada no centro do núcleo populacional do Calhariz de Benfica, é um templo do início do século XVIII.



Capela de Nossa Senhora da Saúde no Calhariz de Benfica.
(Foto Fausto Castelhano - 2010)



Centro de culto e caridade cristã extremamente activo e, também, sede da Confraria ou Terço do Calhariz e onde os fiéis, aos Sábados, cantavam a “ladaínha” a Nossa Senhora e, aos Domingos, rezavam o “terço”.
A festa do orago, imagem antiquíssima de Nossa Senhora da Saúde, celebrava-se a 15 de Agosto e compunha-se de missa cantada de enorme cerimonial e acompanhamento instrumental, sermão adequado ao festivo dia, exposição do Santíssimo Sacramento e festança de arromba onde o povo participava de modo entusiástico…



(2)- Ermida do Espírito Santo
Freguesia de Benfica



A vida atribulada, não só da Capela do Espírito Santo mas, também, do seu albergue e hospital destinado aos peregrinos, concita as atenções gerais e merece citação especial… Assim, em 1699, a vetusta capela já se encontraria em ruínas e poucas providências teriam sido tomadas pelos elementos da Confraria do Espírito Santo que administravam o templo e toda a actividade de culto e caridade cristã desenvolvida em seu redor, embora continuassem a receber os foros das propriedades do Adro da Igreja e, também, das casas junto à Igreja Paroquial e outros proventos durante, pelo menos, o ano de 1752.
Entretanto, a Irmandade do Santíssimo Sacramento e dando cumprimento ao decreto de 30 de Janeiro de 1780 emitido pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, tomou posse de todos os bens móveis e imóveis da ermida mas, pelos vistos, também pouca importância lhe mereceu a recuperação inadiável do templo…
Extinta a Irmandade do Espírito Santo entra em cena a Irmandade do Santíssimo Sacramento a qual, em Fevereiro do ano de 1785 assume-se como única usufrutuária e administradora da Capela do Espírito Santo… Não obstante, em 1809, a velhinha Capela do Espírito Santo encontrava-se em situação periclitante e, no seu interior, as missas deixaram de ser celebradas pelo perigo iminente de derrocada mas, entretanto, é utilizada como cemitério quando escasseavam sepulturas na Igreja Paroquial…
Apenas em 1831, a Irmandade do Santíssimo Sacramento vai substituir a porta da capela que se encontrava escaqueirada e, no ano de 1855, alguns pequenos arranjos serão levados a efeito na arruinada capela… Mesmo assim, o templo é convertido em edifício de aluguer e, em 1907 ocorre o descalabro total: a capela é, pura e simplesmente, transformada em cavalariça de animais de tracção de um comerciante da Freguesia de Benfica...
Na sequência da implementação da República Portuguesa em 1910, o próprio nome de Espírito Santo é varrido da toponímia da Freguesia de Benfica e substituído pelo nome do jornalista Ernesto da Silva porém, indícios da Capela do Espírito Santo não se conseguem vislumbrar e nem sequer a sua real localização…



(3)- Capela de N. Sr.ª da Conceição da Lapa
Falagueira, Amadora (antiga Porcalhota)



A construção da Capela da Nossa Senhora da Conceição da Lapa, conhecida por Capela da Falagueira, foi autorizada por Provisão do então Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Francisco I, em 15 de Novembro de 1759 e aberta ao culto em Agosto de 1760.



Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, Falagueira, Amadora, antiga Porcalhota.
(Foto de Arnaldo Madureira - 1961 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



A referida Provisão surge no seguimento de uma petição feita pelos habitantes da Porcalhota, Reboleira, Falagueira e outros lugares das redondezas os quais, pretendiam erigir uma ermida na Porcalhota.
A capela tem apenas um altar, onde se pode observar uma imagem de Nossa Senhora da Conceição da Lapa. O orago da capela é comemorado no dia 15 de Agosto.



Adro da Capela de Nossa Senhora da Conceição da Lapa na Falagueira, antiga Porcalhota.
(Foto de Joshua Benoliel - 1912 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



A Capela da Falagueira foi sede da Confraria ou Terço da Porcalhota e, tal como na Ermida do Calhariz de Benfica, aos Sábados era rezada a “ladaínha” a Nossa Senhora e o mesmo se passava aos Domingos em relação ao “terço”.
Após a sagração da nova Igreja Matriz construída na Venteira em 1958, a Capela da Falagueira deixou de ser a única “capela pública” da região… Recentemente, a capela sofreu obras de restauro, notável iniciativa que devolveu a importância e dignidade ao local.



(4)- Quinta do Assentista: Solar e Capela
Falagueira, Amadora (antiga Porcalhota)



A entrada do solar e capela da Quinta do Assentista na Falagueira, Amadora, a antiga Porcalhota.
(Foto Wikipédia)



A Quinta do Assentista, também conhecida como Quinta dos Intendentes, é um excelente exemplo das inúmeras quintas que outrora existiram na Amadora e arredores. Este edifício foi erguido em 1746 e integra uma capela particular.



Solar e capela da Quinta do Assentista na Falagueira, Amadora, isto é, a antiga Porcalhota.
(Foto de Arnaldo Madureira - 1961- Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa)



Em termos de corrente artística, o conjunto edificado afirma-se por uma pequena mistura de estilos: um muro e o pátio fechado por um portão Joanino e, nesse mesmo muro, um frontão Barroco o qual, integra uma estátua de Nossa Senhora da Saúde. A decoração é sóbria, uma característica do século XVII. No seu interior, vislumbra-se um jardim que alberga diversas espécies vegetativas.









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